Buscar no site

Em 17 anos, FGTS perdeu quase 40% para avanço da inflação

Trabalhador com saldo no fundo em 2016 teve perda real de 1,22%, enquanto demais aplicações superaram o IPCA. Governo permitirá o saque de contas inativas.

G1

  • 23/01/17
  • 14:00
  • Atualizado há 378 semanas

O dinheiro aplicado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) acumula perda de 39% para a inflação nos últimos 17 anos. Só no ano passado, a defasagem foi de 1,22%, atrás de todas as aplicações que não envolvem alto risco, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Em 2017, cerca de 10,2 milhões de trabalhadores poderão sacar o dinheiro de contas inativas do FGTS, segundo o governo federal.

Quando a rentabilidade de uma aplicação financeira fica abaixo da inflação no período, o retorno real (descontado à inflação) é negativo e há uma perda de poder de compra. Na prática, foi o que aconteceu com os trabalhadores que tinham dinheiro no FGTS.

"Tirando os investimentos de alto risco, foi o pior retorno entre as aplicações financeiras, como tem sido todos os anos", avalia o diretor executivo de estudos da Anefac, Miguel de Oliveira. "A rentabilidade é tão baixa que o FGTS nem pode ser considerado um investimento", acrescenta.

O Fundo de Garantia é recolhido todos os meses sobre 8% do salário do trabalhador e rende 3% ao ano mais a taxa referencial (TR). A TR é usada como referência para os juros no Brasil e faz a correção monetária de vários investimentos, como a poupança.

Entre janeiro de 2000 e dezembro de 2016, o FGTS acumulou um retorno de 120,63%, informou ao G1 a Caixa Econômica, responsável pelo fundo. No mesmo período, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) corroeu esses ganhos ao avançar 200,63%. Em 2016, a inflação de 6,29% ficou mais uma vez acima dos ganhos do Fundo, de 5,01%.

FGTS x aplicações

Todos os investimentos que não envolvem alto risco (renda variável) renderam acima da inflação oficial em 2016, com exceção do FGTS. Só tiveram retorno negativo as aplicações ligadas ao câmbio: o dólar perdeu mais de 17% frente ao real, e os fundos que acompanham a variação cambial também fecharam o ano no vermelho.

Até a caderneta de poupança, que perdeu para o IPCA em 2015, conseguiu vencer da inflação no ano passado. Ela teve ganho real de 1,9% (considerando a inflação), o melhor resultado desde 2009, quando o ganho foi de 2,63%.

Quem tinha R$ 1 mil aplicados no FGTS em janeiro de 2016 terminou o ano com R$ 1.050,10. Se tivesse deixado este mesmo valor na poupança, teria acumulado R$ 1.083. Esse mesmo montante aplicado no Ibovespa, índice de ações da bolsa paulista, teria se convertido em R$ 1.389,39.

Os fundos de renda fixa atrelados à taxa Selic renderam 14% no ano passado (sem levar em conta taxas e impostos), enquanto os títulos do Tesouro Direto tiveram um retorno médio de 20,99%.

Com rentabilidade inferior a outras aplicações consideradas conservadoras, especialistas dizem que é vantajoso para o consumidor sacar o FGTS para pagar dívidas ou buscar outras aplicações mais rentáveis. Eles ressaltam, no entanto, que o FGTS é uma poupança do trabalhador e que eles devem ter cuidado em como vão comprometer esse dinheiro.

FGTS vai render mais em 2017

Além do saque das contas inativas, outra novidade do FGTS é a promessa de que a remuneração do fundo será maior a partir de 2017. O governo pretende distribuir aos trabalhadores metade do lucro obtido com os investimentos feitos pelo fundo.

O FGTS usa o dinheiro dos trabalhadores para emprestar recursos em projetos de infraestrutura e crédito da casa própria. Em troca, recebe juros. O lucro do FGTS resulta desse ganho, descontados os custos para sua manutenção, e fica disponível para o caixa do governo. A ideia agora é dividir 50% desse lucro com o trabalhador.

Se essa regra já valesse em 2015, seriam distribuídos R$ 6,7 bilhões como remuneração extra aos trabalhadores, uma vez que nesse ano o FGTS teve um resultado positivo de R$ 13,3 bilhões. Assim, o governo espera que, se o fundo tiver resultado semelhante daqui para frente, a rentabilidade vai se aproximar dos ganhos da poupança, hoje em 6,17% ao ano mais a taxa referencial (TR).

Para o consultor financeiro do Mercantil do Brasil, Carlos Eduardo Costa, quem tiver saldo disponível para o saque não tem motivo para deixar de resgatar o dinheiro, mesmo com a promessa de maior rentabilidade do FGTS feita pelo governo.

"A vantagem de fazer a retirada da conta inativa é que há muitas aplicações disponíveis, e o investidor pode ser o juiz de seu próprio dinheiro", comenta. "Além disso, não se sabe ao certo qual vai ser a melhoria desse rendimento e se ela não virá tão cedo. Vai depender o resultado financeiro do fundo", acrescenta.

Saque do FTGS

Atualmente o saque é permitido apenas em certos casos, como demissão sem justa causa ou quando o trabalhador está desempregado por três anos seguidos.

No fim do ano passado, o governo federal anunciou que permitirá o saque do valor total de contas inativas (que tiveram rescisão do contrato de trabalho) até 31 de dezembro de 2015.

O saque também vale para quem está trabalhando ou para quem está desempregado há menos de três anos. A estimativa do governo federal é que a medida permitirá que cerca de 10,2 milhões de trabalhadores saquem o dinheiro de contas inativas do FGTS.

Quem fizer o saque poderá usar os recursos para qualquer fim: pagar dívidas, dar entrada em um imóvel ou investir em outras aplicações, por exemplo.

Receba nossas notícias em primeira mão!