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Diabulimia, transtorno alimentar que pode levar à morte

Embora ainda não seja reconhecida na literatura médica, a diabulimia é considerada pelos especialistas um problema duplo em que, além do diabetes, se tem um transtorno alimentar grave

Bem-Estar

  • 20/03/17
  • 14:00
  • Atualizado há 369 semanas

A diabulemia é um transtorno alimentar em que pacientes com diabetes reduzem ou deixam de aplicar as doses de insulina, hormônio necessário para controlar os níveis de açúcar no sangue, na tentativa de perder peso. O nome vem da junção dos termos "diabetes" e "bulimia".

Segundo a médica endocrinologista especialista em diabetes Dra. Ana Elisa Alcântara, a diabulimia leva sérios problemas à saúde do indivíduo a curto e a longo prazo. "A hiperglicemia (glicemia elevada) associada à falta adequada de insulina fazem com que o corpo passe a utilizar outras fontes de energia, como a gordura estocada, levando a perda de peso. Ocorre ainda glicosúria (maior perda de glicose pela urina), desidratação, acidose metabólica, culminando em cetoacidose diabética e risco imediato de vida. A longo prazo desse descontrole metabólico persistente, há um maior risco das complicações vasculares, destacando a retinopatia diabética. Outros riscos potencias são: problemas renais graves, cegueira, impotência e amputações de membros, " alerta a endocrinologista.

O termo diabulimia surgiu nos últimos anos, embora este comportamento alimentar não seja novo, a conscientização pública sobre ele é relativamente recente. Segundo os critérios da 5ª edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders [DSM-5> (APA, 2013), é possível classificar esta alteração do padrão alimentar como uma perturbação purgativa, onde existe um comportamento recorrente para influenciar o peso ou a forma corporal na ausência de ingestão alimentar compulsiva, sendo que os seus sintomas causam sofrimento clinicamente significativo para o indivíduo ou prejuízo no seu funcionamento social e ocupacional, entre outros.

Para o médico psiquiatra e especialista em comportamento humano Dr. Ricardo Frota, uma das principais causas deste transtorno é a não aceitação de si próprio ligado a uma condição física ou psicológica permanente que traz a pessoa uma ideia de que o fato dela precisar conviver com aquilo o resto de sua vida irá lhe trazer sérios danos a sua felicidade e ao seu estilo de vida.

"Quando o paciente se depara com uma necessidade de tomar decisões sobre sua própria vida tendo que levar em conta que, esta por sua vez, será determinada por profissionais de saúde, pelos pais, por um medicamento, ou seja lá por qual motivo ou pessoas que não a si próprio, causa uma sensação de frustração e baixa autoestima por se sentir impotente de tomar as rédeas de sua própria vida", explica. O psiquiatra ainda reforça que o sentimento de não aceitação da própria condição gera raiva, tristeza, ansiedade, sentimento de menos valia, ingratidão com a vida e as pessoas e acaba se colocando em uma posição de vítima.

"Uma posição em que tudo e todos estão contra ela e principalmente, sente seu direito de liberdade ferido e então surge o mecanismo de defesa em que para se sentir dona de suas próprias escolhas, começa a apresentar comportamentos de auto agressão física e psicológica como forma de dizer a sociedade que ela é dona de si mesmo e ninguém tem o direito de interferir em suas escolhas, mesmo que essas atitudes aconteçam de forma sigilosa, para que não se sinta obrigada ou julgada a tomar decisões contrarias a sua vontade", enfatiza.

Quando buscar ajuda

Para a endocrinologista Dra. Ana Elisa Alcântara pode não ser fácil para uma pessoa com diabulimia saber pelo que está passando e pedir ajuda. Com isso se torna muito importante o apoio da família e profissionais da saúde para iniciar o tratamento o mais rápido possível e, assim, evitar as complicações. A médica alerta que se deve sempre ter atenção aos primeiros sinais que uma pessoa com diabulimia apresenta:

• Vulnerabilidade a um transtorno alimentar: está muito obcecado sobre o seu peso;

• Sintomas do diabetes descompensado: fraqueza, poliúria (urinar muito ao dia), polidpsia (sede excessiva), baixa concentração ou cetoacidose diabética (náuseas, dor abdominal, vômitos);

• Comer muito e não ganhar peso ou até perdê-lo;

• O estoque de insulina mantém-se inalterado, porque não é utilizado;

• O paciente não é visto aplicando a insulina;

• Idas recorrentes ao hospital e hospitalizações por episódios de cetoacidose diabética;

• Comportamento alimentar irregular: os indivíduos com diabulimia preferem não comer com outras pessoas e quando estão em público escolhem alimentos com poucas calorias e comem pequenas porções, no entanto, em privado optam por alimentos de altos teores calóricos;

• Não aderência ao tratamento prescrito para o diabetes;

• Evitam que os pais observem a auto aplicação de insulina;

• Dietas frequentes e preocupação com o planejamento das refeições e composição dos alimentos;

• Visão negativa da imagem corporal/baixa autoestima;

• Sintomas depressivos, incluindo o humor triste, baixa de energia e sono interrompido.

São comportamentos destacados pela médica em que os pais devem ficar sempre atentos e para o psiquiatra e especialista em comportamento humano Dr. Ricardo Frota, os pais também em conjunto com os profissionais de saúde devem ter papel muito importante nesse processo o de ter consciência de não impor regras e não fazer julgamentos, mas sim trazer ferramentas para que o próprio paciente encontre o seu melhor caminho em busca de sua cura completa. "Nada na vida é permanente, tudo está sempre em transformação e todos são seres humanos em busca de saúde e bem-estar. A terapia visa uma busca de auto aceitação, não da doença, mas de si mesmo. Toda adversidade, por mais crônica que seja, não quer dizer que será permanente e sim uma grande oportunidade que a vida traz de evoluir, melhorar e aprender a desenvolver em si a auto responsabilidade, ou seja, de assumir que é totalmente responsável pelos seus atos e resultados que tem na sua vida e se os 'bons'' resultados ainda não vieram, é porque tem algo a ser aperfeiçoado", conclui o especialista.

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