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"Eu sou ladrão e vacilão"

Opinião por Thais Zanforlin, advogada

Divulgação/Assessoria

  • 15/06/17
  • 15:00
  • Atualizado há 357 semanas

Thais Zanforlin*

Hoje, não muito diferente de outros dias, ao conhecer das notícias nos jornais, escritos e televisionados, me deparei com mais uma perplexidade, ao informar que após um suposto furto de uma bicicleta no valor de quinze reais, no qual não se consumou, por um adolescente, menor de idade e usuário de drogas, que foi acusado e torturado por dois adultos que ao seu livre arbítrio resolveram "acusar, processar e condenar" com as "próprias mãos" o adolescente ao tatuar na sua testa "eu sou ladrão e vacilão", filmar e depois colocar nas redes sociais, humilhando-o e constrangendo-o, apesar do seu pedido de clemência e a da sua negação quanto ao possível e não concretizado delito.

É triste saber que, vivemos ainda em uma sociedade da "Era dos Impérios", a não dizer da "Era das Cavernas", em que as pessoas fazem como elas querem, acusam e condenam de forma brutal, fazendo a justiça com as próprias mãos, não menos que isso, voltamos à época do "olho por olho, dente por dente", só que neste caso do menino adolescente, não se utilizou da mesma força, muito pelo contrário, uma força desmedida, brutal, animalesca, para não se dizer, revoltante aos olhos de quem é "Ser Humano", pois ainda acredito que nos resta alguma qualidade de Seres Humanos.

Depois de tanto abusos e inconsequentes mandos pelo Poder Público no "Caso Cracolândia" na cidade de São Paulo, com o apoio de um público ignorante que não conhece das profundas algúrias de uma situação que demanda especial atenção na área social e de saúde, e não de uma polícia repressora e violenta, vemos este mesmo público aplaudindo o crime hediondo em face deste garoto.

Inacreditável pensar que talvez este mesmo público foi para as ruas de suas cidades reivindicar mais justiça contra os corruptos, e constantemente repassam mensagem de celulares de como as pessoas devem agir naqueles pequenos delitos diários cometidos por todos, este mesmo grupo de pessoas que apontam os erros dos outros, invocando mais exemplos bons e menos desonestidades, esquecem de diferenciar quem são as vítimas e quem são os culpados. A inversão de valores relacionada se enfrenta na singela destreza de se esconder por detrás da invocação de moralidade, quanto que o valor está conhecer da doença e estender a mão, fácil é se manter nas salas de sua casa e nos computadores de seu trabalho para opinar, difícil é ir até o arcabouço de misérias desta população doente que clama por atenção.

Entender que um menino, usuário de drogas, que exposto à própria sorte numa sociedade que costumeiramente o marginaliza pelo seu vício, pela sua pobreza, pelos seus problemas familiares e sociais, poderia ser considerado culpado e condenado, chega a ser revoltante aos que pouco entende de leis e apenas se solidarizam com sentimentos, chamadas pessoas de BEM, por quanto, aqueles que restam o saber jurídico, o ocorrido é não menos que os impactos do processo penal aos torturadores, na inteira e lídima justiça.

Por fim, ainda tenho esperanças nesta sociedade, e neste público que apoia o abuso, a violência e os desmandos sem prudência, tento acreditar que não passam de minoria e que deles não surtirão frutos, pelo contrário, penso que com o passar do tempo, estes não terão vez, serão cada vez mais reprimidos e envergonhados quando exporem suas opiniões, a ponto de um dia, abrirem suas mentes às reais dificuldades da sociedade, de modo a ajudar e não condenar, ou se assim não ocorrer, espero que estes mesmos se acabem como espécie, pois se assim não o for, não há motivos para surgir novas gerações, novos adolescentes e novos adultos, seremos condenados pelos nossos próprios erros e julgamentos, seremos assim, ladrões de vidas e vacilões no mundo.

*Thais Zanforlin é advogada

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