Artista de Assis se dedica à profissão de luthier e ainda faz trabalhos como músico

Luciano Queiroz, de 39 anos, morador da Rua Flauzina Liberata de Jesus, região central de Assis, é conhecido por ser um grande músico e luthier, o profissional que constrói e dá manutenção em instrumentos musicas. Em entrevista à reportagem do AssisCity, ele fala sobre as duas profissões e como elas são importantes em sua vida.

Na conversa, ele afirma que se considera um violeiro e no que diz respeito ao trabalho de luthier ressalta que a qualidade de instrumentos artesanais é superior aos industrializados.

AssisCity - Como se tornou luthier?

Luciano Queiroz - Desde muito pequeno sempre gostei de trabalhos manuais. E numa época em que praticamente não havia internet, era muito difícil conseguir alguém para fazer pequenos reparos em instrumentos. Então, considero que comecei dessa forma, já tocava um pouco e sempre tinha necessidade de arrumar ou regular meus instrumentos e de amigos. Desse início até partir para a fabricação do primeiro instrumento foi só uma questão de tempo.

AssisCity - Quais os instrumentos que fabrica?

Queiroz - Trabalho com instrumentos acústicos da famílias das cordas dedilhadas. Nessa família, que se toca nas cordas com os dedos, faço qualquer instrumento: violas, violões, cavaquinhos, bandolins, entre outros. Não trabalho com fabricação de instrumentos sólidos, como guitarra elétrica, por exemplo, nem com instrumentos de arco, como violino, cello, e outros.

AssisCity - Qual a importância de se fabricar instrumentos?

Queiroz - Todo músico, seja o que vive da música ou mesmo o que tem a música somente por hobby, mas que preza por uma certa qualidade, necessariamente vai precisar de bons instrumentos. E nesse quesito as fábricas em geral deixam muito a desejar porque focam seu trabalho na produção em série e sempre na redução de custos para conquistar uma melhor posição no mercado. Já o luthier trabalha pensando somente na qualidade final do instrumento, em quesitos de afinação, estética, durabilidade, além de poder atender exigências únicas de músicos, fabricando instrumentos fora de padrões que existem no mercado. São mundos completamente diferentes. E sem o luthier, com certeza absoluta os músicos não teriam acesso a todas as possibilidades para melhor desenvolver seu trabalho.

AssisCity - Já fez instrumentos para artistas renomados?

Queiroz - Trabalho para qualquer pessoa que valoriza o trabalho de se ter um bom instrumento. E isso inclui, desde músicos renomados de carreira, como pessoas comuns que nem sabem tocar ainda, mas que simplesmente gostam de ter um instrumento único em coleção. E por conta disso, não divulgo quem são meus clientes. Não acho justo valorizar somente o famoso e não o que financeiramente se esforçou mais para poder encomendar um instrumento feito por mim.

AssisCity - Quais são os tipos de madeira que utiliza?

Queiroz - Somente madeiras nobres selecionadas. Desde madeiras brasileiras como Cedro, Mogno, Imbuia, Jacarandá da Bahia, até madeiras importadas como Ébano, Abeto, alguns tipos de Jacarandá, Maple, entre outras.

AssisCity - Quantos instrumentos fabrica por ano?

Queiroz - Depende um pouco de uma série de fatores, mas em média poderia dizer que cerca de 25 ao ano.

AssisCity - Você tem alguma outra profissão?

Queiroz - Meu trabalho principal é a luthieria. Mas, acima disso me considero um artista em tempo integral, trabalho com outras artes também, como a música e a fotografia, em menor escala que a luthieria, por pura falta de tempo.

AssisCity - Como concilia as duas profissões?

Queiroz - Não é fácil conciliar as duas coisas porque a prática musical exige muito esforço e muitas horas de treino. Com o trabalho na oficina, me faltam essas horas. Além disso, como todo músico sabe, o trabalho de 1 hora de apresentação ao público se transforma facilmente em 3 dias ou mais, contando com ensaios, viagem, passagem de som, etc, por isso o músico precisa ser valorizado. Mas, quando surgem algumas datas tento sempre conciliar e fazer uma sequência de apresentações para conseguir aproveitar melhor o tempo, e nessa horas infelizmente a oficina fica um pouco de lado.

AssisCity- Fale um pouco do seu trabalho na música também.

Queiroz - Meu instrumento é a viola caipira. Foi ela que me escolheu anos atrás, quando saí da cidade para estudar fora. De lá pra cá, nunca mais deixei a viola de lado. Não me considero um músico profissional porque não me dedico inteiramente a isso como gostaria. Mas, me considero um violeiro, que tem uma relação muito próxima com a terra de onde veio e com a cultura popular caipira. Tenho dois trabalhos de viola instrumental lançados, que podem ser ouvidos no YouTube, Spotify, Dezzer, Itunes e outras plataformas digitais, e em minhas apresentações sempre tento levar um pouco dessa cultura que convivo diariamente.