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Um livro de cabeceira para ajudar a envelhecer bem

Bem-Estar

  • 01/10/17
  • 12:00
  • Atualizado há 338 semanas

Aproveitando que hoje é o Dia Internacional do Idoso: se eu tivesse que indicar um livro de "iniciação" a quem pretende transformar seus dias de maturidade numa fase ativa e prazerosa, meu voto iria para "Como envelhecer". Escrito pela jornalista e socióloga Anne Karpf, a obra faz parte da coleção "The School of Life" ("A escola da vida"), que se dedica a refletir sobre questões fundamentais para o ser humano. Ela usa como fio condutor a personagem Gina, que acaba de completar 30 anos e se angustia ao descobrir o segundo fio branco em seus cabelos. Seus pais, na faixa entre 55 e 65 anos, comportam-se como se tivessem 15 a menos - e a filha também tem pavor da velhice. A partir daí, a autora vai apresentar o envelhecimento como um processo que dura a vida toda, já que começa no momento em que nascemos. Não é algo confinado aos seus estágios mais avançados e, principalmente, trata-se de mais uma oportunidade para a gente se desenvolver. A propósito, em hebraico, a palavra guil significa tanto alegria quanto idade.

Anne ensina que temos que nos livrar do chamado "modelo deficitário" do envelhecimento, como se ele só trouxesse perdas. Para começar, o cérebro é mais elástico do que se acreditava e, se a memória de curto prazo pode diminuir, as conexões entre as informações que retemos são melhores. E lembra: Winston Churchill se tornou primeiro-ministro aos 66, Verdi compôs "Otello" aos 72 e Sófocles escreveu "Édipo Rei" com 68. Um dos meus trechos preferidos é quando ela dá nova moldura a uma frase recorrente de idosos: "Não me sinto velha, ainda me sinto como se tivesse 18 anos por dentro". Na verdade, temos todos os nossos tempos dentro de nós ou, como diz a autora: "as idades anteriores não são estripadas pela idade, e sim cobertas umas pelas outras, como anéis no tronco de uma árvore". Ao assumir o envelhecimento, abraçamos o processo da vida em si, com suas dores, alegrias e dificuldades. Anne escreve que as pessoas que envelhecem melhor são aquelas capazes de se livrar das ideias a que se apegaram quando veem que não são mais adequadas: "Todos sabemos que desapegar-se de velhas narrativas pode ser extremamente doloroso".

Quando nos depararmos com uma pessoa mais velha, devemos imaginá-la como o nosso futuro. "Em vez de nos horrorizarmos com suas rugas e enfermidades", propõe Anne, "devemos aplaudir sua resiliência. Precisamos reumanizar as pessoas mais velhas, atribuir a elas o mesmo mundo interior rico e cheio de paixões que presumimos existir dentro dos mais jovens e em nós mesmos". Por isso o contato entre gerações é tão importante: segundo o gerontólogo Bill Bytheway, há uma conexão direta entre segregação por idade e preconceito contra os mais velhos. O livro é dividido em seções que tratam do medo de envelhecer, da importância de abraçar a idade que se tem e até o que a autora chamou de "Um capítulo bem curto sobre a morte". Curto mesmo, tem menos de dez páginas, mas uma das melhores frases da obra, retirada de "Memento mori", da escritora Muriel Spark: "A morte, quando se aproxima, não deve pegar a pessoa de surpresa. Deve fazer parte do que esperamos da vida. Sem um senso de morte sempre presente, a vida é insípida". Vale ter lugar cativo na sua mesinha de cabeceira.

Anne Karpf, autora de "Como envelhecer"

Crédito: Divulgação / London Metropolitan University

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