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Carcereiro relata momentos de desespero durante luta corporal com detento

Segundo carcereiro, não houve surto mas tentativa de fuga

Redação AssisCity/ Foto: Arquivo

  • 04/11/17
  • 10:00
  • Atualizado há 333 semanas

O carcereiro que foi agredido durante a tentativa de fuga de um preso na Cadeia Pública de Lutécia na noite desta quinta-feira, 2, relata os momentos de desespero pelos quais passou.

O homem, que trabalha há 22 anos como carcereiro, contou que nunca tinha passado por nada parecido.

"Eu estava de plantão e, como só temos um funcionário por turno durante os feriados, optamos por não liberar o banho de sol por questões de segurança. Esse detento, que já é foragido de outro lugar e é considerado de alta periculosidade, foi colocado na função de faxina um dia antes de eu assumir o plantão na quinta-feira. Perto das 18h, ele me perguntou se poderia se recolher e eu fui abrir a cela. Nesse momento, ele entrou na cela e já veio com um artefato feito com alguma grade ou espécie de lança, que estava amarrada em um cabo de vassoura, aparentemente, e que também tinha a ponta afiada. Era um instrumento parecido com uma faca, que ele veio pra cima de mim e tentou me atingir no pescoço, mas que pegou no braço, no músculo do antebraço e no peito. Quando ele tentou me atingir no peito, a haste dessa faca bateu no osso da minha costela e quebrou. Nós entramos em luta corporal e fiquei por cerca de 10 minutos tentando gritar para que meu parceiro pudesse vir me socorrer, mas ele não me ouvia", afirma.

O carcereiro afirma que gritou até a exaustão enquanto ele e o preso lutavam pela vida.

"Ele me deu vários socos e eu tentei revidar, até que derrubei ele no chão, mas ele caiu com os joelhos em cima do meu tórax. Apesar do cabo ter se soltado da lança, ele continuava a me bater com aquele pedaço de madeira. Quando consegui apoiar o braço no chão, levantei com ele em cima de mim e consegui jogá-lo no chão. Foi quando eu fiquei por cima dele e parecia de fato uma luta, até que consegui pegar um cadeado que estava no chão, levantei e cheguei até a porta de cela, que pesa entre 80 e 100 quilos. Fechei rapidamente e passei o ferrolho, mas mesmo assim ele tentava me alcançar pelos buracos da grade. Foi quando corri e consegui chegar até a outra porta, onde estava o meu parceiro", salienta.

Durante a briga, o carcereiro afirma que tentou segurar o preso pelo pescoço, mas foi mordido e o detento chegou a arrancar a ponta do dedo do funcionário fora.

"Quando eu tentei segurar ele pelo pescoço, ele veio com a boca e mordeu o meu dedão da mão direita. No que eu puxei para tentar me desvencilhar, ele arrancou a ponta do meu dedo. Eu estava com a camisa toda rasgada, não conseguia respirar, sentia a impressão de que a costela tinha perfurado. Assim que consegui chegar ao meu parceiro, fui socorrido e levado para o hospital de Paraguaçu Paulista. Sentia tanta dor que tiveram que me dar morfina. Graças à minha chefe, consegui ser transferido para Assis, onde fiz todos os exames e o médico constatou que não havia ferimentos graves. Tive três perfurações, no braço, antebraço e no tórax, trinquei a costela, machuquei o dedo da mão e estou com um galo bem grande na testa, além de diversos hematomas pelo corpo", acrescenta.

O preso ainda manteve outro detento de refém, até conseguir negociar sua transferência com o delegado.

"Depois que eu consegui escapar, o preso entrou na cela, amarrou os braços de um outro detento e disse que iria matá-lo. Eu acredito que eles estavam combinados de fugir juntos, mas o outro deve ter ficado assustado por conta da possibilidade de uma intervenção da tropa de choque e etc. O preso colocou o outro detento na frente da grade e ficou ameaçando ele, até que o delegado conseguiu negociar o refém e garantiu a integridade física de todos", salienta.

O carcereiro disse que faltam poucos anos para se aposentar e que esperava não ter que passar por isso, mas que também ficou feliz ao impedir uma fuga em massa.

"O meu sonho é conseguir a aposentadoria daqui 3 ou 4 anos. Tenho vários amigos que já passaram por situações semelhantes e nunca tinha acontecido nada parecido comigo. Infelizmente aconteceu antes que eu pudesse me aposentar, mas graças a Deus consegui impedir a fuga dos presos, pois a intenção deles era fugir. Eu estive perto da morte, mas felizmente consegui escapar dessa e impedir que o preso soltasse os demais. No Dia de Finados eu simplesmente nasci de novo", conclui.

O carcereiro já teve alta do hospital e agora segue se recuperando em casa.

Na manhã desta sexta-feira, 3, a equipe de reportagem tentou contatar o delegado da Cadeia Pública de Lutécia, mas ele só retorna na segunda-feira, 6. A reportagem publicada anteriormente afirmava que o preso teria tido um surto, com base nas informações repassadas pela Polícia Militar, mas o carcereiro afirma ter sido uma tentativa de fuga já planejada.

O preso rebelado foi transferido de Lutécia para Mirandópolis, cidade localizada a 232 quilômetros de distância.

Cadeia Pública de Lutécia

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