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Vidraça

Kallil Dib

  • 28/08/15
  • 16:00
  • Atualizado há 451 semanas

Muito ouço falar que o nosso país está passando por uma crise financeira de grandes proporções, e confirmo tal afirmação em atitudes cotidianas. Uma volta no comércio da cidade nunca foi tão solitária. Escuto o barulho de vendedores conversando. Vejo cartazes gritando promoções.

No mercado, o tomate estraga por ser caro. O vermelho chamativo se desmancha. Com o passar dos dias ele perde sua cor original e vai escurecendo pouco a pouco. Suas sementes são inutilizadas, e daquele fruto não sairão outros.

O arroz e o feijão frequentam mesas requintadas como há tempos não se via. A cesta básica nunca foi tão pobre e necessária. Três filhos, pai e mãe, se amontoam no combate à fome. A fome mata: o bolso. E mata de tristeza e desgosto os pais trabalhadores, assalariados pelo mínimo pago a eles.

No fim do mês não sobra nada. Ter energia elétrica não é mais tão vantajoso assim. Bandeiras coloridas indicam que aquela conta irá tirar metade da remuneração dos servidores. A água, escassa e rara (quem diria), tem a sua conta compensatória no fim do mês. Os últimos dias dos 30 mensais, aliás, são terríveis. Um pesadelo.

Estamos em meio a uma crise. Coincidentemente tudo isso está acontecendo ao mesmo tempo em que escândalos políticos e partidários afrontam os brasileiros. As páginas dos jornais informam diariamente o que estamos cansados de saber, que por aqui se rouba até o que não têm.

A luz no fim do túnel indica que a mudança ainda pode acontecer. E não me lembro, em meus pouco mais de 24 anos, em ter presenciado tantas pessoas declarando nas ruas, de caras pintadas, as suas insatisfações com os governantes máximos do país. Nunca antes na história dessas duas décadas, um povo gritou tanto por seus direitos.

Há quem diga, ainda, que está tudo perfeito, lindo, fantástico. Já ouvi até dizerem na capital federal que estamos caminhando a passos largos ao primeiro mundo. Na realidade, já chegamos lá. O tão cobiçado primeiro lugar é sim frequentado pelo verde e amarelo! Afinal, somos os primeiros em corrupção, em tráfico de drogas, assassinatos, desigualdade. Estamos no topo. E no final da lista da educação, do desenvolvimento, da qualidade de vida.

Há ainda piadas de mal gosto no congresso federal. As últimas davam conta de que poderia ser aprovada a redução da maioridade penal, onde jovens a partir dos 16 anos poderiam ser presos e condenados como qualquer outro cidadão maior de idade. A ideia não é de se jogar fora, isso poderia reduzir sim os índices de criminalidade por aqui.

Mas, ideias boas devem ter argumentos melhores ainda. Hoje, o nosso sistema penitenciário é precário e não consegue se adequar nem ao menos à demanda existente, imagine, então, com um considerável aumento desse número de presos.

Além disso, também disseram que a maconha poderia ser liberada para consumo próprio. Para um país em que o consumo de drogas está diretamente ligado aos números alarmantes de diversos crimes, isso seria um 'tiro no pé'. Eu diria para os nossos caros governantes que pensem em investimentos em Assistência Social, Educação, Informação...

Ao falarmos nas ideias, também repensamos em ações. Por exemplo, apesar de tudo que o Governo Federal arrecada em impostos, de tudo que pagamos em impostos por uma bala, pela conta de energia, pelo quilo de tomate e o pacote de feijão, ainda assim vivemos uma crise financeira.

Muitos municípios brasileiros já decretaram estado de falência, afinal, com os poucos recursos que recebem da União fica praticamente impossível de se administrar e investir em uma cidade. Os impostos que entram nos cofres municipais também são relativos e boa parte deve ser destinada a outras esferas de governo.

A situação é mais crítica do que se pinta por aí. Somos vidraças, refletimos o incorreto mundo a fora. Julgados por atrasar a conta de luz por um dia. Julgados por raça, cor e religião. Mas que não consigam quebrar o espirito de mudança e desmanchar o sorriso esperançoso característico dessa nação.

Há uma luz lá no fim do túnel, que ainda não conseguiram apagar.

Kallil Dib - jornalista

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