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A ruptura das relações contemporâneas e as redes sociais

Os laços de afeto e os laços digitais

Eder Fonseca

  • 11/11/15
  • 16:00
  • Atualizado há 440 semanas

As mídias sociais (facebook, instagram, whatsapp etc) fazem cada dia mais parte do cotidiano. Por meio delas, faz-se negócios, informa-se, busca-se uma vaga de emprego, relaciona-se, diverte-se etc.

Será um movimento irreversível? É muito provável, com base nas mudanças pelas quais o ser humano e, consequentemente, a sociedade já passou, é possível observar alguns indicativos que orientam a análise do presente e a expectativa de futuro.

Assim o foi com o surgimento das máquinas de impressão de Gutenberg, ou com o telefone de Graham Bel, ambas significativas mudanças permitidas na comunicação entre as pessoas.

A internet também se situará, quando as gerações futuram observaram o momento em que se vive, nessas mudanças estruturais, causada pela tecnologia, que permitem cada vez mais um mundo de pessoas conectadas.

E exatamente por tocar no ponto das relações, o tema acaba ganhando um viés duplo. De um lado, a evolução permite conectar, fazer com que conhecimentos gratuitos, antes restritos, estejam disponíveis, compartilhados, democratizando ferramentas para que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, possa se desenvolver. Por outro, há a reflexão sobre a possibilidade de empobrecimento das relações e, consequentemente, dos afetos.

A tecnologia como meio ou como fim? Em si, ela aparenta mesmo ser fria. É expressivo, para trazer uma reflexão sociológica da questão, a observação de Zygmunt Bauman, autor conhecido por escrever sobre a era em que se vive, que ele denomina Modernidade Líquida: a fugacidade é o marco das relações e o grande desafio para os indivíduos.

Refletindo brevemente sobre o tema, ele aponta, no auge dos seus 86 anos, que em sua época não havia o conceito de rede social, tal qual o concebemos hoje, das inúmeras pessoas que são adicionadas em perfis ou contas, e muitas delas não fazem parte do convívio diário. Ele possuía apenas o conceito de comunidade, algo que já existe antes de qualquer um, e onde se constroem os laços de afeto.

Segundo ele, o grande diferencial é que e a rede é mantida viva e existe por duas atividades especificas: conectar e desconectar. Uma amizade no Facebook é facilmente desfeita com um desfazer a amizade. Sendo, portanto, fácil conectar e, mais ainda, desconectar essas relações. Hoje você pode ter 1000 amigos, logo 999 e, amanhã, ganha e volta nos 1000.

Já na comunidade, onde as relações de afeto ocorrem, são cara a cara, corpo a corpo, e rompê-las é sempre um evento difícil. Mas é exatamente com base nesse contato com a comunidade, com as pessoas, nas relações de afeto, é que reside a ambivalência da vida e a construção em compreender seus objetivos, o que você é.

Naturalmente, o ser humano tende a construir laços projetados no futuro, ainda que muitas vezes não compreenda que por inúmeros motivos, para crescer, obter inteligência emocional, é preciso o entendimento de que amanhã, daqui um mês, um ano, ou nunca, quem sabe, essas relações podem ser desfeitas para dar lugar a novas e causar a evolução natural afetiva do indivíduo, e isso ocorre na comunidade, no cara a cara.

Assim, para se ter uma vida satisfatória e relativamente feliz, é preciso dosar a segurança e a liberdade nas relações de afeto (quaisquer que sejam elas). Essas são contadas nos dedos nas mãos.

Portanto, muitas pessoas, que estão construindo suas relações apenas nas redes Sociais, correm o risco de deixar de vivenciar algo valioso para o desenvolvimento, que são os laços da comunidade, capazes de fazer nos projetarmos cada dia melhores.

Buscar curtidas, tentar expor uma vida aparentemente feliz, baseada na audiência digital, pode correr o risco de perder a possibilidade de vivenciar os laços afetivos, que dependem muito mais do que queremos para a vida, os objetivos de crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional do que comentários e compartilhamentos.

Dito isso, se houver uma balanceamento na utilização das redes sociais, para que elas sirvam justamente para que haja essa melhora na relação entre pessoas, seja obtendo mais informações, estreitando nossos laços de afeto, é possível utilizar a tecnologia em favor do desenvolvimento humano, como já aconteceu diversas vezes.

Por exemplo, pais e filhos, irmãos, amigos, que mesmo longe podem manter vivos os laços de afetos por meio dos laços digitais, encurtando o tempo e a distância. Nesse cenário, mudam-se não só as relações entre pessoas, todavia, entre estas e as marcas, que podem fornecer conteúdo capaz de fazer frente a essa nova necessidade e perspectiva pela qual passamos.

As empresas passam a ser responsáveis pelo estreitamento dos laços de afeto, dando surgimento, talvez, numa forma de organização econômica e social.

*Eder Fonseca é CEO e fundador da Penze, uma agência criativa para a era da conectividade.

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