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Advogado consegue tirar médico da cadeia, suspeito de cobrar por cirurgia pelo SUS

O médico ainda pagará fiança no valor de 10 salários mínimos, sob pena de revogação

Redação AssisCity.com

  • 01/10/14
  • 21:00
  • Atualizado há 499 semanas

Caisê Pinheiro, advogado de defesa do médico ginecologista de Assis, Ariosvaldo Giansante, de 60 anos, preso em flagrante por corrupção passiva, nesta terça-feira, 30, conseguiu alvará de soltura de seu cliente, por volta das 18 horas desta quarta-feira, 1º.

O médico atendia em consultório próprio junto com outros médicos no Jardim Europa e também na Santa Casa de Assis. Durante uma consulta foi filmado pela paciente Andréia Marcolino, 39 anos, com uma câmera escondida, sendo em seguida denunciado à Polícia Civil e preso para ser investigado por corrupção passiva.

O alvará de soltura do médico

Por volta das 18 horas desta quarta-feira, 1º, foi expedido o alvará de soltura do médico Ariosvaldo Giansante, acusado de corrupção passiva e preso na cadeia pública de Lutécia.

O alvará é assinado pelo juiz de Direito da 1ª Vara Criminal de Assis , doutor Adugar Quirino do Nascimento Souza Júnior. O médico ainda pagará fiança no valor de 10 salários mínimos, sob pena de revogação, assim como está impedido de mudar ou ausentar-se por mais de 80 dias da cidade de Assis. Após a soltura, o acusado deve comparecer no Fórum de Assis para ser advertido das condições do benefício.

A versão da vítima

A denunciante Andréia Marcolino, moradora da Vila Maria Isabel, diz que vinha sendo atendida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas teve um pedido de R$ 3.000,00 do médico, além de R$ 1.200,00 que seriam para despesas hospitalares, o que totaliza R$ 4.200,00 para que o médico fizesse de imediato uma cirurgia devido a uma patologia no útero, que lhe causa sangramentos constantes.

A paciente já tinha autorizada a cirurgia pelo SUS, e indignada com a cobrança e preocupada com o agravamento das hemorragias, a paciente resolveu usar uma câmera para filmar uma nova consulta na Santa Casa de Assis com o ginecologista que vinha lhe atendendo nos últimos seis meses, sempre pelo SUS. Nas imagens aparece o exame sobre a mesa, o médico dizendo que, pagando ou não, tratava-se de uma cirurgia de alta complexidade. Com a insistência da mulher, acompanhada do esposo, sobre o valor da cirurgia, se não haveria um modo de ter desconto, o médico teria aceitado realizar o procedimento descontando R$ 400,00 dos três mil reais pedidos anteriormente.

Andréia Marcolino esclarece ainda que se tivesse pago, a cirurgia seria feita o quanto antes, mas se fosse pelo Sistema Único de Saúde o médico só a atenderia em 2015.

O Boletim de Ocorrência

"Sabendo da gravidade de seu quadro clínico, estando extenuada, rogou ao médico que prestasse a assistência médica gratuita. Contudo, ainda atemorizando a vítima sobre a gravidade de seu quadro clínico, voltou a exigir que pagasse pelo menos a quantia de R$ 2.600,00 para fazer a cirurgia, pois caso contrário, só o faria no ano que vem de modo a ficar evidenciado que possivelmente, no andar da doença, o risco de vida de certa forma era iminente", fez constar o delegado José Roberto Tucunduva Mello Filho, no boletim de ocorrência.

A gravação da denúncia foi feita na manhã do dia 30 de setembro, por volta das 10h30, e a denúncia apresentada na Delegacia Central de Polícia Judiciária às 14h30.

A prisão

Assim que souberam da denúncia, os delegados Roberto Tucunduva e Ricardo Antonio Nascimento, foram à casa do médico denunciado, no Jardim Europa, para prendê-lo em flagrante delito por corrupção passiva (Artigo 317 do Código Penal).

A versão do advogado

O advogado de defesa Caisê Pinheiro declara que o médico Ariosvaldo Giansante é o único médico do Governo Federal em Assis que faz cirurgias eletivas pelo programa Contratualidade, e que tem como finalidade realizar procedimentos cirúrgicos para acabar com a fila do SUS, e como viajaria de férias, a cirurgia só poderia ser feita no final do ano ou em janeiro de 2015. Então, foi quando a paciente perguntou sobre a possibilidade de se fazer particular e o médico apresentou os valores médicos e hospitalares para o procedimento que ela precisava.

No mesmo dia, segunda-feira, 29, a paciente procurou o promotor Substituto da 6ª Promotoria de Assis Rafaeli de Felippo Filho que a orientou a registrar um Boletim de Ocorrência, o que ela fez, e posteriormente voltou e para a gravação. "Nós temos a informação de que foi a polícia quem forneceu uma caneta com filmadora para a paciente e a orientou a voltar para negociar os valores", afirma Caisê Pinheiro.

Para o advogado do médico, isso é perseguição porque o médico já esteve preso uma vez e afirma que "Isso tudo foi arquitetado, porque meu cliente foi absolvido naquele evento. Se fosse outro médico ninguém ia fazer nada. O delegado agiu de má fé. Isso é flagrante preparado, o que é ilegal e nesse caso o juiz teria que revogar o caso", diz o advogado.

"Além do mais, a paciente disse para o médico que ela queria fazer particular. Depois foi no promotor, depois no delegado que provocou o flagrante preparado. O doutor Tucunduva foi quem atendeu a paciente, mas não foi ele quem lavrou o flagrante, que nem tinha mandado de busca e chegaram na casa do médico e deram voz de prisão pra ele", argumenta Pinheiro, que completa o raciocínio afirmando: "o flagrante é na hora ou quando se persegue. No entanto, o fato se deu na segunda-feira e a prisão ontem, enquanto meu cliente estava em casa, descansando após o almoço".

Para o advogado, "a postura do médico foi ética, pois é comum os médicos sugerirem que se faça um procedimento particular quando pelo público vai demorar", diz Caisê Pinheiro.

A outra prisão

Há alguns anos, o mesmo médico já tinha sido preso na condição de profissional de saúde, por tráfico de entorpecentes. Na ocasião, ele foi acusado de ajudar a retirar porções de drogas introduzidas no corpo de uma mulher. Após a formalização do boletim de ocorrência, feito na presença de um advogado, o ginecologista foi levado ao Plantão Policial já durante a noite pra depois ser transferido para a cadeia de Lutécia.

Segundo o advogado Caisê Pinheiro, o médico ficou preso 90 dias, mas "o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu pelo trancamento da ação penal, pois reconheceu que a conduta do delegado e a denúncia eram infundadas e Ariosvaldo Giansante foi absolvido".

Os advogados Caisê e Carlos Pinheiro, pai e filho atuando juntos na defesa do médico

Paciente disse que gravou a conversa e entregou para polícia(Foto: Reprodução/TV TEM)

Andréia disse que médico pediu R$ 2,6 mil pelo procedimento (Foto: Reprodução/TV TEM)

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