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"Cada vida salva na UTI é combustível para continuarmos na linha de frente", relata o médico Gustavo

Ele trabalha na Santa Casa de Assis, de Presidente Prudente, e de Paraguaçu Paulista, além de outros hospitais privados e lecionar na FEMA

Redação AssisCity

  • 08/04/21
  • 17:00
  • Atualizado há 158 semanas

Hoje o Portal AssisCity em parceria com a Santa Casa de Assis apresenta mais um herói da pandemia da instituição, representando seus profissionais da saúde, do Brasil e de todo o mundo, que estão na linha de frente no combate à COVID-19. São eles que arriscam suas vidas, afastam-se de seus familiares, fazem horas e horas de plantões e vibram quando salvam vidas.

Nessa edição o herói da pandemia é o médico Dr. Gustavo Navarro Betônico, nefrologista e intensivista, formado pela Universidade Federal de Urberlância, em 1999, com doutorado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina de São José do rio Preto.

O médico, hoje com 46 anos, com esposa e dois filhos, Mariana de 18 e Gustavo de 14, que mora em Presidente Prudente, tem uma vida bastante dinâmica, de estudo e trabalho.

Não bastasse a rotina de ser filho, esposo e pai, e salvar vidas, o médico ainda é professor do curso de Medicina da FEMA e vice-presidente regional da Sociedade Paulista de Terapia Intensiva (SOPATI).

Tudo isso mostra que realmente o médico não para e a profissão para ele representa um "projeto de vida que tem como principal objetivo melhorar a vida de outras pessoas".

Divulgação -
"Cada vida salva na UTI é combustível para continuarmos na linha de frente", relata o médico Gustavo

Como ele mesmo diz que não escolheu a profissão e sim a profissão o escolheu, Dr. Gustavo faz um relato especial sobre esse momento de pandemia, que teve início em 2020 e está sendo um grande aprendizado: "No início de 2020 estávamos na expectativa de lidar com uma doença desconhecida para todos, que havia trazido um grande sofrimento na Europa, especialmente em países irmãos nossos, como por exemplo, a Itália. No decorrer do ano, enfrentamos desafios nunca antes imaginados, desde o contato com uma doença extremamente contagiosa, que nos obrigou a usar equipamentos de proteção individual nos atendimentos. Vivenciamos também um trabalho com toda a equipe administrativa ainda mais próximo, pois com o desabastecimento de insumos que o país e o mundo viveram em todo o ano de 2020, e ainda vivemos em 2021, foi necessário nos reinventarmos, atualizando, semanalmente ou até mesmo diariamente, os protocolos de sedação, analgesia e mesmo de suporte ventilatório para nos adaptarmos a cada momento. Mas, mesmo com todo o sofrimento e todo o custo emocional, cada vida salva na UTI é combustível para continuarmos na linha de frente".

Mas, o maior desafio, e também tristeza, para o médico é "que não existem vagas de internação na maior parte dos serviços de saúde, seja para COVID ou não-COVID, e não há nada pior para um médico do que saber que nem todos terão as mesmas oportunidades de serem salvos. E as campanhas de distanciamento social não estão surtindo efeito".

O médico intensivista faz uma revelação sobre a pandemia que já tirou milhares de vidas em um curto período de tempo, e deixa transparecer sua sensibilidade como ser humano, homem que ama: "Já trabalhei em projetos humanitários, onde tive contato com pobreza extrema, locais extremamente inóspitos. Mas, nunca imaginei viver este caos sanitário bem aqui em nosso quintal".

Sobre a missão de salvar tantas vidas, mas também de ver tantas mortes, Dr. Gustavo fala da sensação de impotência e de tristeza.

"Aprendemos na faculdade e na vida que a Medicina prima por salvar vidas, mas quando se trata de COVID e UTI, a mortalidade é muito elevada. Isso é muito triste, não dá pra sair intacto de um plantão na UTI COVID. A cada vez que atravessamos a porta de entrada, sabemos que ao sairmos parte importante nossa terá ficado lá dentro. E, mesmo que tenhamos salvado uma vida, fica sempre a sensação de que não foi suficiente", diz emocionado.

Dr. Gustavo Navarro faz uma revelação importante sobre o estado emocional dos profissionais de saúde, veem e tratam um paciente COVID com uma rotina jamais imaginada, tanto dentro dos hospitais quanto dentro de suas casas. "Estamos todos exaustos emocionalmente. Seja porque estamos trabalhando com uma doença infectocontagiosa e isso nos afasta de nossos familiares e amigos ou porque vivemos nessa rotina de admissões e altas onde a UTI nunca fica vazia, e vemos amigos, vizinhos, parentes, ricos, pobres viverem e morrerem. Essa doença foi capaz de igualar o rico ao pobre, colocando ambos em situações de risco sanitário semelhante", desabafa.

Ainda sobre a rotina de trabalho, de como ela afeta seu convívio familiar, o médico fala do distanciamento, a começar pela sua mãe, que agora já foi vacinada e poderá encontrá-la: "Acho que agora vai melhorar. Minha mãe, que eu só encontrei três vezes bem rapidamente no último ano, já tomou a primeira dose da vacina". Já em relação aos filhos, muito sensibilizado diz: "eles também pagam o preço, já que as minhas idas à UTI COVID fazem com que eles não possam se aproximar muito de seus colegas, seja na escola ou com vizinhos".

Dr. Navarro, em meio a todo esse movimento de trabalho e rotina familiar, em pouco mais de um ano de pandemia, teve poucos dias fora do ambiente de trabalho, apenas 14 dias: "mesmo fora do hospital, a pandemia continua em casa, com o computador montando protocolos, acertando doses de sedativos e fazendo reuniões com gestores, com equipe e realizando treinamentos".

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