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ARTIGO: O 1º de Maio roubado

Colunista - Ulysses de Souza Cruz e Silva

Colunista - Ulysses de Souza Cruz e Silva

  • 03/05/21
  • 19:00
  • Atualizado há 151 semanas

Há mais de 135 anos o primeiro dia do mês de maio tem sido reconhecido mundialmente como o Dia do Trabalhador. Muitos governos do mundo organizam este dia como uma grande data cívica, onde garantem voz a todas as organizações classistas e sindicais, dos vários segmentos de trabalhadores.

Os trabalhadores do Brasil, desde 1900, já se utilizam desta data para realizar manifestações que serviam para lembrar as lutas históricas dos primeiros operários e apresentar para o conjunto da sociedade as situações de trabalho indignas a que eram submetidos, situações estas, àquela época, absolutamente cruéis e pedir flexibilização por parte dos patrões e políticas públicas mais humanizadas aos governantes.

Assim tem sido desde aquela primeira semana de maio em Chicago, nos Estados Unidos, onde operários fazem uma greve geral nacional para forçar os patrões a reduzir a jornada de trabalho, que era de 16 horas diárias, para 8 horas diárias.

Ao final aquela mobilização sagrou-se vitoriosa, como podemos perceber por nossa atual carga horária de 8 horas - em algumas categorias até um pouco menos, todavia, pagou-se um preço muito alto por isso.

Como o trabalho por 16 horas contínuas estava correto perante as leis vigentes os patrões acionaram a polícia que interviu violentamente contra os trabalhadores matando dois deles. No revide dos trabalhadores um grande conflito sucedeu resultando na morte de mais quatro trabalhadores e sete policiais deixando ainda 130 feridos graves.

Nos dias seguintes daquele mês de maio de 1886 a polícia, amparada pela "Lei Marcial", ocupou dezenas de sindicatos, em diferentes cidades e prendeu mais de 100 sindicalistas, acusados de "incitar a violência policial". O Estado processou, baseado na cruel lei existente, 8 dos sindicalistas, 7 foram condenados à pena de morte - um deles foi encontrado morto na cela, posteriormente 2 tiveram suas penas convertidas em prisão perpétua.

Em 11 de novembro de 1887, vestindo túnicas brancas e tendo o rosto coberto por um capuz também branco: Adolph Ficher; Alberto Parsons (considerado um dos principais líderes); August Spies e George Engel, foram enforcados.

Somente sete anos depois em 1893, o governador de Chicago, Adolph Altgeld concederia perdão aos dois sobreviventes: Reconhecia ter havido "erros no processo".

O preço? Sete policiais e 11 trabalhadores mortos.

O primeiro dia daquele levante, o dia 1º de maio, foi marcado na história dos sindicatos, do movimento dos trabalhadores e na história do mundo como o dia em que se reverenciam aqueles que deram suas vidas para que leis mais humanas fossem adotadas. Reverenciar aqueles que mesmo com familiares a esperar-lhes tiveram a coragem de ir às ruas gritar que é possível por fim à exploração absurda do homem pelo homem e que o Estado é que tem que regular as forças do capital e do trabalho, afinal o trabalhador não tem outra coisa para enfrentar o poderio do patrão a não ser a sua própria mão de obra.

Chegamos ao primeiro dia do mês de maio do ano de 2021, um ano totalmente atípico em razão de uma terrível epidemia que assola as populações do mundo inteiro matando, inclusive, parcela significativa de trabalhadores.

O 1º de maio de 2021 encontra o trabalhador brasileiro cansado, fraco, combalido, não apenas pela pandemia e outras enfermidades que se proliferam, mas por desastrosas ações - ou inanições - do Governo Federal.

O mesmo governo que sabe que quem mais está sofrendo com esta pandemia são os trabalhadores do país e que, portanto, às vésperas da sua data mais importante, deveria prestar-lhes ao menos uma simbólica homenagem, organiza, dois dias antes do 1º de Maio, um almoço com 50 empresários - patrões!

Ora presidente, o momento era, obrigatoriamente, para um encontro com os sindicalistas, agradecer o sacrifício que seus representados estão oferecendo ao país - em particular os trabalhadores da saúde, apontar as boas medidas que seu governo irá adotar, já que não fez nada até agora, para proteção real dos empregos, enfim, presidente, dar voz aos homenageados do mês. Os empresários comensais o senhor os recebe quando quiser ou quando eles o querem, tem sido assim.

Pior que isso foi incentivar os atos absolutamente antidemocráticos, uma vez que pediram o desrespeito à nossa Constituição Federal: Fechamento do STF - um dos Poderes da República e intervenção militar, que pressupõe o fechamento do outro Poder da República, o Legislativo. Insinuando que precisa apenas de um "Presidente, eu autorizo", para sair governando sozinho! Um ditador é que não precisa dos demais poderes! Um ditador é o que a Constituição determina que nunca mais se estabeleça no Brasil.

O que vimos aqui em Assis, a exemplo do que se viu em outras cidades, foram dezenas de carros, com flamulas verde-amarelas, fazendo um buzinaço desproporcional transitando pelas principais vias. Muitos carros evidentemente com valores de mercado muitíssimo acima do que qualquer trabalhador da cidade jamais poderia adquirir. Caminhões (Cavalos mecânicos) de algumas empresas - algumas com mais de um - também se prestaram a este papel zombeteiro dos trabalhadores, o que se espera é que ao menos hora-extra tenham pago aos seus motoristas, esses pobres coitados!

Desse grupo de manifestantes, aqueles que têm horário de trabalho regular têm férias garantidas, 13º salário, Fundo de Garantia, licença paternidade e maternidade e outros "benefícios", a hora que os perderem - e os perderão, se o "mito" seguir neste rumo, vão refletir pela dor, e não mais pelo amor, que só possuíam esses "benefícios" por que foram trabalhadores de coragem que os conquistaram e que são trabalhadores de coragem que os garantem hoje e os garantirão amanhã. Trabalhadores de coragem, que eles não são por esconderem-se atrás da falsa sensação de proteção que lhes é dada agora.

Presidente Bolsonaro, Independente desta que, penso ser, uma nova tentativa de golpe, os seus apoiadores não vão conseguir roubar o 1º de Maio dos trabalhadores, nem a liberdade do povo brasileiro!

Presidente, o que a grande maioria da população deseja é que o senhor concentre-se no que se espera seja o trabalho de um presidente da república neste momento: Siga as orientações da ciência; Fortaleça o SUS; Coordene e integre de forma racional as ações desenvolvidas pelos estados no combate à pandemia; Apresente propostas econômicas que tirem o país da rota para o abismo e, por favor, pare de fazer campanha eleitoral!

Vacina no braço e comida no prato!

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