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Cancelamento do carnaval de rua:por que a decisão não é uma boa notícia

A opinião é do colunista Pablo Scherrer

Divulgação

  • 18/01/16
  • 17:00
  • Atualizado há 430 semanas

Eu nunca fui muito fã de carnaval. Já troquei desfiles carnavalescos por um "carnarock", um tipo de baladinha Rock'n'roll na época do carnaval. No entanto, aprendi muito cedo (na escola) que essa grande festa que se iniciou ainda no período colonial do Brasil e reuniu ritmos do mundo todo como afoxés, frevos, maracatus e, posteriormente, as marchinhas, o samba e outros gêneros musicais, é a maior manifestação cultural do país e uma das maiores do mundo. Então, por mais que eu não goste muito ou prefira outras festividades, respeito essa tradição cultural e popular e acho justo o poder público incentivar a realização dela.

E é justamente por ser uma festa popular que o cancelamento do carnaval de rua esconde uma visão elitista do papel do poder público em relação à cultura. Afinal, para muitos cidadãos, é a única festa acessível.

Nas redes sociais, a maior parte dos que aplaudem o cancelamento do carnaval são aqueles que irão viajar e se divertir em outras cidades. Aí fica fácil crucificar o incentivo público neste caso. Ademais, essas pessoas são a favor até mesmo da extinção do carnaval de rua, mas experimente perguntar à elas se abririam mão também do feriado prolongado de carnaval.

O gasto com o carnaval de rua assisense representa um valor muito pequeno perto do que a prefeitura gasta com propaganda ou dívidas indevidas e injustas, que precisam ser auditadas. O repasse previsto para o carnaval deste ano, por exemplo, era de R$65 mil, apenas. No portal da transparência do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo é fácil encontrar valores significativamente maiores gastos com publicidade institucional pela Prefeitura de Assis em 2015, clique aqui.

Quem garante que o dinheiro "economizado" com o carnaval irá mesmo para tapar os buracos da sua rua, por exemplo, e não para tapar os buracos do atual prefeito (PSDB)? Afinal, conforme noticiado recentemente, a CETESB multou a Prefeitura de Assis em R$30 mil por depositar lixo irregularmente atrás do nosso Distrito Industrial.

É por isso que comemorar o cancelamento do carnaval de rua como boa notícia pode ser um grande equívoco. Na minha opinião, ele deveria ser encarado quase como um corte em educação ou saúde, pois trata-se de um corte na já pouco subsidiada cultura em nossa cidade. Ao contrário do que se pensa, ele não significa economia, nem tampouco representa medida de uma gestão eficiente e preocupada com a coletividade, já que se poderia economizar muito mais cortando despesas com os chamados cargos em confiança, por exemplo. E, afinal, é possível sim fazer festa em tempos de crise. Eu diria que é ainda mais necessário! Vivemos numa sociedade bruta, escravos do trabalho e do capital, e precisamos ter nossos dias de extravaso para não acabarmos bitolados, confinados e deprimidos. Deve ser por isso, inclusive, que a festa em questão, de origem européia, foi bastante disseminada entre os escravos no Brasil no passado.

Antes de elogiar o cancelamento do carnaval de rua em Assis, portanto, é importante refletir. Ele pode ser apenas mais uma evidência de uma péssima gestão (PSDB) e mais um corte que penaliza os mais pobres em nossa cidade. E para quem está com a imagem ruim em pleno ano eleitoral, mais vale R$65 mil em propaganda institucional do que R$65 mil no carnaval (ou em buraco) de rua.

Por Pablo Scherrer (27) é assisense, estudante, servidor público e presidente do PSOL.

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