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Você sabe como me sinto

COLUNISTA - Niva Miguel

Niva Miguel

  • 11/08/18
  • 18:00
  • Atualizado há 293 semanas

Aquela sexta-feira parecia ser como uma outra qualquer, mas tinha algo de diferente no ar. Paciencioso e na expectativa, ele estava fazendo as suas coisas, aqui, ali e acolá. Como estava um pouco frio resolveu fazer um café para se esquentar, também colocou um Jazz pra tocar. Ao som de "Dream A Little Dream of Me", com a Ella Fitzgerald, tudo parecia estar perfeito. E estava! Além disso, algo lhe dizia que ele teria um belo dia pela frente, a paciência era a senhora absoluta da situação. Por isso, um sorriso apareceu em seus lábios e encheu o seu coração de alegria. Então, ele olhou para o céu e agradeceu pelo momento. No instante seguinte, um arrepio percorreu todo o seu corpo e ele teve a intuição de que os deuses estavam conspirando a seu favor e que algo melhor ainda estava por vir.

Feliz da vida, resolveu tomar um banho, um pouco mais demorado dessa vez e até cantarolou embaixo do chuveiro algumas canções que lhe vieram à mente. Escolheu cuidadosamente um traje, queria ficar bonito pra si mesmo. Esborrifou seu perfume favorito, se viu no espelho e sorriu. Achou que estava perfeito. E tudo isso, só para dar uma volta por aí. Ainda cantarolando e já no carro, dirigia sem pressa nenhuma pelas ruas e avenidas da cidade e curtia novamente outro Jazz. Dessa vez tocava "What A Difference A Day Made", com Jamie Cullum. Coisa boa!

E nessa, encontrou um velho amigo que há muito tempo não via. Mas, quando surgia em seus pensamentos a figura do "parça", isso lhe causava sentimentos generosos em retribuição. Por isso, ele ficou mais feliz ainda com o encontro inesperado naquele café. Entretanto, o amigo aparentava estar mais feliz que ele. Se cumprimentaram, deram um longo abraço, abriram um sorriso daqueles um pro outro, sentaram, pediram uma bebida quente, conhaque com café, e começaram a conversar.

Quero dizer, por um instante um olhou para o outro e pensaram a mesma coisa: quem vai falar primeiro. O amigo do nosso personagem tomou a frente e disse, com delicadeza, e um leve sorriso no canto da boca: "você é mais velho, né? Então, pode começar a falar".

Meu amigo, estou feliz pra dedéu, disse ele.

- É estou percebendo, tá na cara, né! Mas o que houve para tamanha felicidade? Estou até com inveja, mas não muita. Um pouquinho só, vá!

Aí, ele começou a falar:

- Pois bem, dia desses o André Bertini, um amigo meu, escreveu um texto no Facebook, versando sobre uma história acontecida em um bar. Eu gostei e propus a ele que a gente criasse vários textos com esse tema. Ele gostou da ideia e topou. O difícil era a gente se encontrar para acertar como faríamos essa parceria.

Mauricião Bueloni, que é nosso amigo se propôs em ajudar e me disse que o André passa quase todos os dias, depois das 18 horas, no bar Túnel do Tempo, no Jardim Monumento, para jogar Bocha e que ali poderíamos conversar. Na primeira tentativa não deu certo. Mas, ontem no final da tarde ele me ligou dizendo que era possível nós três sentarmos e discutirmos o tal assunto. Como estava no centro da cidade e sem carro, Mauricião me deu uma carona. Mas o melhor ainda estava por acontecer!

Assim, fomos buscar o André que estava acabando de sair do trabalho. Com nós três já dentro do carro, antes de dar a partida novamente Mauricião nos surpreendeu. Ele abriu um compartimento e tirou três latinhas de cervejas, uma para cada um e disse:

- Isso é para brindar o nosso encontro!

Aí, nós três rimos, nos abraçamos, nos saudamos e sentimos uma poderosa energia unindo nossas forças naquele momento. O gesto do Mauricião foi algo sublime que colocou um importante selo na nossa amizade e não há dinheiro nesse mundo que pague isso. Coisa de amigo!

Já no bar, o tratamento foi de primeira, como se eu fosse um velho freguês. Primeiro, o dono me deu boas-vindas. Segundo, todos os presentes me cumprimentaram, estenderam as mãos e sorriram pra mim. Fiquei à vontade! Não joguei nenhuma partida, fiquei ali só assistindo, contemplando todos os jogos. E foram vários. Impressionante como todos ali estavam contentes, e era como se um passasse esse contentamento para o outro ao lado. Também fui contagiado, assistia aos jogos e pensava comigo: é tão fácil ser feliz, é tão fácil se divertir, é tão bom estar entre amigos, é tão...

Foram algumas horas nesse ambiente e, antes de partirmos, nós três conversamos sobre a nossa proposta dos textos e tudo ficou acertado. André partiu de um lado, depois de uma despedida com abraços e palavras de afeto. Mauricião me deu uma carona e viemos conversando sobre o ocorrido. Na despedida, dei a ele um abraço e um sorriso, o melhor que eu carrego em mim. Também lhe agradeci por ele ter me proporcionado tamanha alegria.

Assim, cheguei em casa mais feliz do que quando sai. Mais que isso, tendo um colo amado a me esperar!

Encontros inesquecíveis

No dia seguinte, o sábado amanheceu ensolarado, um belo dia. Acordei no mesmo estado de espírito do dia anterior, achei até que foram os deuses que me acordaram. Pensei ter ouvido: "levanta, tá na hora, vá ver o belo dia que está lá fora, vá viver esse belo dia que preparei pra você, levanta e vá viver a vida, além do mais, estamos aqui pra te ajudar no que for preciso". Por isso, levantei rindo, cantarolando e dando bom dia a tudo e a todos.

Dessa forma, o café da manhã estava mais saboroso. Ainda mais ouvindo Paulinho da Viola: "pra se entender, tem que se achar, que a vida não é só isso que se vê, é um pouco mais, que os olhos não conseguem perceber, não sei se todo beleza de que lhes falo, sai tão somente do meu coração, sei lá não sei, sei lá não sei...".

Como faço quase todos os sábados, sai pra rever velhos amigos, amigos de infância. Isso quer dizer, encontro com gente presente na minha vida há mais de 50 anos. Alegria! E só tem um lugar pra isso, Bar do Tiba, no São Dimas.

Dessa vez, encontrei Sé, recordamos um pouco da nossa infância, falamos dos nossos pais, irmãos, dos amigos presentes e dos que já foram, dos vizinhos, enfim, falamos de tudo um pouco. Aquela conversa que revigora o espírito e nos fortalece ainda mais pra continuarmos caminhando. Mais alegria!

Saindo de lá fui almoçar com a minha mãe, que ainda me trata como se eu tivesse 10 anos de idade. É mimo pra tudo quanto é lado. Quem não gosta de receber sorrisos, beijos e abraços apertados da mãe? A minha é assim! E em seguida ela emenda: "hoje não tem muita coisa pra comer, mas fiz tudo no capricho pra você, comprei laranja lima daquelas que você gosta, tem suco e fiz aquele pudim de sobremesa". Coisa simples, mas um verdadeiro banquete!

Num estado de espírito impossível de verbalizar, de barriga cheia e me sentindo o mais feliz dos mortais continuei minha caminhada. Estava pensando em ir a um bar, no Bairro Alto, onde estava acontecendo uma roda de samba. No caminho cruzei com Gedão e sua companheira, outro amigo querido. Estavam eles no bar do João. Mais conversa agradável, mais abraços trocados e, principalmente, muitos risos. Alegria pura!

Foi cerca de meia hora de conversa, mas que pareceu um dia todo.

Agradecendo tudo que estava acontecendo, segui em frente. Às vezes, eu me perguntava, mas que alegria é essa, meu Deus? Como resposta, novamente parecia algo me dizer: "apenas sinta e viva isso, você de alguma forma fez por merecer, portanto, estamos lhe dando esse presente". Então, me deixei levar!

O samba fervia como de costume, gente pra tudo quanto é lado. Fui entrando meio que sambando, meio que cantando e na cadência. Cruzei com Zete Adão, figura que dispensa comentários, nos cumprimentamos, rimos, trocamos beijos, abraços e palavras doces. Junto com ela à mesa estava Rogério Baiano, ex-jogador do XV, que me cumprimentou com entusiasmo. Mas a surpresa ele deixou pra depois.

E cumprimenta um aqui, abraça outro ali e estende a mão pra outro acolá, tudo acompanhado daquele sorriso de satisfação e aquela alegria de rever gente que você gosta. Entre tudo isso, também abraços carinhosos trocados com Cacau, que está sempre rindo. Coisa bonita de se ver!

Da calçada, recebia e dividia toda essa energia e o momento era de contemplar toda essa magia. Eis que de repente Rogério Baiano veio até a mim, ao lado estava um amigo dele. Se dirigindo ao amigo ele disse: "esse cara aí, apontando para mim, tenho a maior consideração por ele. Quando cheguei aqui pra jogar no XV, em 2001, naquele momento as coisas não estavam nada boas pra mim. Estava num café e ele chegou do nada, perguntou se eu jogava no XV, viu que eu não estava bem. Começou a falar um monte de coisas boas pra mim, sem me conhecer. Encheu minha bola, deu a maior moral pra mim. Era tudo que eu precisava naquele instante. Falou tudo isso e foi embora. Meu astral foi lá em cima. Por isso, tenho o maior respeito por ele". Pego de surpresa, não soube o que responder, apenas agradeci com alegria.

Com tudo de bom que há nesse mundo saindo por todos os poros do meu corpo, fui deixando o samba e me preparando - preparar aqui é comprar cerveja para ver o meu time jogar daqui a pouco, entrei no carro e parti. Não deu nem 100 metros, em um outro bar, encontro um amigo considerado, daqueles que você já brigou e voltou a amizade não sei quantas vezes, que você não vê há tempos e quando encontra é uma festa.

Pois bem, agora encontrei com o New, foram cumprimentos sinceros pelo reencontro, risos intermináveis, abraços calorosos, histórias engraçadas e muitas, mas muitas risadas mesmo. Falamos de nossas vidas, de nossos amigos, enfim, de tudo um pouco. Conversamos por quase uma hora, não podia ficar mais. Tinha ainda que passar no supermercado comprar a cerveja para ver o futebol. Nos despedimos e prometemos nos encontrarmos em breve pra uma cerveja! Coisa de amigo!

O dia parecia que não teria fim e que aquela luz, aquela energia, aquele astral, aquela alegria, aquele sei lá o quê, aumentava cada vez que eu encontrava com alguém. Por isso, o sorriso estava presente no meu rosto. Aquilo era incrível, inexplicável!

Como se não bastasse tudo isso, os deuses haviam me preparado uma surpresa de tirar o fôlego. Já dentro do supermercado, apressado, meio que perdendo a hora pro futebol e escolhendo a cerveja, dou de cara com uma desafeta de anos, uma senhora. Sem pestanejar, avanço em sua direção, dou um baita sorriso pra ela, abro os braços, dou-lhe um beijo na face e termino com um abraço daqueles. Então, pergunto: como vai a senhora? Tudo bem? A mulher desconcertada não sabia o que responder diante do meu ato inesperado. Apenas sorriu pra mim! Esse acontecimento parece que aumentou ainda mais tudo que já narrei aqui! Maravilha!

E, pra terminar, o meu time ganhou naquele dia.

Soube mais tarde que os deuses aos quais eu me referi, são o meu povo que anda comigo. Meu anjo da guarda, por exemplo, e outros bons espíritos, tendo à frente...bem, não precisa falar. Me falaram que nesse dia eles se aproximaram um pouco mais, vieram pra me ensinar algo. Confesso que nesse dia aprendi muito, coisas que ainda estou digerindo. E, quem sabe, um dia eu possa ensinar pra alguém que queira saber! Então, se você, por acaso, vivenciar uma história como ou parecida com essa, tenha a certeza que é um presente que estão lhe dando.

- Se você chegou até aqui e gostou dessa história, imagina a do amigo do nosso personagem que está mais feliz que ele! Mas isso é outra história!

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