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O Feminismo Contemporâneo

COLUNISTA - Keli Cecilia Esperança

COLUNISTA - Keli Cecilia Esperança

  • 10/10/18
  • 19:00
  • Atualizado há 285 semanas

Eu nunca gostei do termo FEMINISMO, sempre achei muito pesado e indefinido. Durante a adolescência, eu via as feministas vestindo-se como homens, cabelos curtos, não usavam maquiagem e nem sapatos de salto alto, e eu sempre vaidosa, cabelos longos, sempre maquiada, e talvez por possuir baixa estatura, o salto era indispensável. Eu era o oposto do que o feminismo representava.

Eu amadureci com essa convicção de que não era, e jamais seria feminista, até que há bem pouco tempo, ouvi de alguém que eu poderia não gostar do termo, mas que eu era feminista. Essa afirmativa causou-me uma certa angustia e provocação cognitiva, me fazendo refletir sobre o significado contemporâneo de feminismo e o seu real objetivo.

Os primeiros movimentos feministas (os quais não pretendo me aprofundar), tinham como objetivo a igualdade de direitos entre homens e mulheres (propriedade, autonomia, voto, contrato, trabalho, igualdade salarial, proteção a integridade física e psíquica...), era a busca da positivação de direitos civis que antes eram apenas atribuídos aos homens, e esses movimentos foram decisivos na conquista desses direitos.

Talvez não consigamos mensurar a dimensão da luta destas mulheres e a grandeza de suas vitórias, por termos nascido em um momento no qual esses direitos já nos tinham sido concedidos, de forma que nunca soubemos, até então, como seria não tê-los.

Porém, a problemática reside no fato de que a criação de leis e ações afirmativas não modifica a ideologia machista que assola a sociedade desde sempre, de forma que hoje, o objetivo principal do feminismo deixou de ser uma igualdade legal, mas sim a modificação do pensamento em relação à concepção histórica da relação homem/mulher.

Portanto, o que hodiernamente se busca não é a positivação de direitos, mas sim o equilíbrio para uma convivência igualitária, respeitando-se as desigualdades. Homens e mulheres são diferentes, e essas diferenças não residem unicamente no campo da anatomia, sabemos que somos seres biologicamente diferentes e que nossos corpos funcionam de maneira diferente, e que é natural e totalmente compreensível que nossos comportamentos sejam diferentes.

A mulher após tantos anos de submissão finalmente é livre; livre para se expressar, para fazer suas escolhas, livre para se relacionar, para educar os seus filhos, para viajar, pra estudar, enfim, é a responsável pela condução da própria vida. Os homens por sua vez, necessitam adaptar-se a essa nova mulher forte e independente.

Então quem são as feministas contemporâneas?

As feministas contemporâneas são aquelas mulheres que sozinhas ou com seus companheiros, acordam cedo para levar os filhos à escola e depois saem para trabalhar em uma jornada de oito horas ou mais; são aquelas sexualmente resolvidas, heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou transexuais, que decidem sobre o seu corpo e por isso podem fazer um planejamento familiar, pois tem acesso a todos os métodos contraceptivos (não está se tratando de aborto aqui). Também são aquelas mulheres independentes financeiramente e/ou emocionalmente; aquelas que preferem não se relacionar afetivamente e aquelas que preferem uma companhia; solteiras, divorciadas, casadas, mães ou não.

Aparentemente são mulheres comuns, e de fato são, com a diferença de que todas as escolhas que tenham elas próprias no centro do que é pretendido, são feitas por elas, sem qualquer imposição ou proibição. Elas são conscientes da repercussão social e das consequências de seus atos, e ao fazerem suas escolhas assumem todas as responsabilidades, sem medo e sem culpa.

Porém, quando falamos em liberdade é necessário atentarmos para o fato de que não existe liberdade absoluta quando vivemos em uma sociedade regida por leis, de forma que o direito de um indivíduo termina onde começa o direito do outro. Assim, podemos dizer que, a grosso modo, o direito que assiste o outro são os limites da minha liberdade.

Ocorre que um determinado grupo de mulheres, tem associado o feminismo ao contrário de machismo, optando por um comportamento essencialmente masculino, e repetindo algumas das características menos apreciáveis de alguns homens, e ainda, agindo de forma ininteligível, não se atentando para o fato de que ao repetir uma torpeza, tornar-se-á tão torpe quanto aquele que é imitado.

O modo que uma pessoa conduz o seu corpo, o modo de vestir-se ou portar-se é uma escolha pessoal, subjetiva, mas a partir do momento que uma mulher opta por fazer um manifesto ou protesto em nome de todas as mulheres, despindo-se em público e utilizando cartazes que depreciam a sua condição de ser humano, há uma invasão do espaço visual do outro, e então já não mais estaremos diante de um movimento feminista, mas sim em uma total ausência de respeito consigo e com o outro, atitude esta que talvez esteja mais relacionada a uma patologia do que com a manifestação da liberdade.

Oposto a esse comportamento extremista, o feminismo contemporâneo é uma atividade cotidiana, exercida por milhares de mulheres, e tem como sinônimo a palavra respeito, a si e ao outro, quanto a sua forma de ser no mundo, quanto aos seus credos e suas religiões, quanto as suas opiniões, quanto a sua sabedoria ou ignorância. Estar em condição de igualdade é diferente de ser igual, é preciso equidade e tolerância para fazer com que os direitos conquistados sejam aplicados de forma eficaz, fazendo com que cada vez menos as mulheres necessitem de ações afirmativas para ter garantida a sua dignidade como ser humano.

Hoje, quando me perguntam se eu sou feminista, a resposta é sim, eu sou feminista, mas essas mulheres que empregam vulgaridade em seus manifestos, desrespeitam a luta das pioneiras e hostilizam o homem como se estes nossos inimigos fossem, definitivamente não me representam.

KELI CECILIA ESPERANÇA (OAB/SP 396.136) é bacharel em Direito pela UNIP e advogada na cidade de Assis, atuante na área cível. Pós-graduanda em Direito Tributário. Realiza pesquisa em filosofia com ênfase no existencialismo e movimentos feministas.

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