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Encarnação do capeta

Colunista - Por Isabella Nucci

Isabella Nucci

  • 10/12/18
  • 11:00
  • Atualizado há 279 semanas

* Isabella Nucci💫 Poeta, jornalista e compositora

Ocorridos recentemente, os vários relatos de assédio sexual que envolviam mulheres frequentadoras da Casa Dom Inácio de Loyola, repercutiram por todo o Brasil e João de Deus nega as acusações. O indivíduo se autodenomina médium e cirurgião espiritual, além de ser chamado de "pai" pelos seguidores doutrinados. Sim, caríssimos leitores, as supostas curas se davam pelo fato de muitas pessoas, desesperadamente vulneráveis devido aos sintomas clínicos, serem sujeitadas a uma forte persuasão/manipulação que, mediante a violência presumida, acabavam sofrendo estelionato sexual.

Em outras palavras, João de Deus pode ser considerado uma fraude e um perigoso maníaco que se aproveitou de muita gente com sérias doenças. Na Conversa com Bial, programa da Rede Globo, as vítimas fizeram depoimentos chocantes de abuso e até mesmo estupro. As entrevistadas relataram casos em que o indivíduo as induzia a "se entregar". Houve até momentos em que ele dizia ter incorporado "um grande amor de vidas passadas" e passava a mão em todas as partes íntimas delas, tirava as calças e pior: chegou ao ponto de ejacular.

O que é fato e muita gente não sabe é que a maioria das mulheres, depois de serem violentadas, carregam durante um bom tempo as traumáticas lembranças do constrangimento e por isso demoram para fazer denúncias. Algumas até omitem o estupro pelo receio da exposição e sentimento de culpa. Pois é, a cultura machista acarreta impactos profundos às vítimas de violência sexual. Pois uma vez agredida, segundo algumas das falas durante o programa, a mulher até pensa que ela mesma foi a causadora. Afinal, o que primeiro ocorre quando são constrangidas, é um tipo de paralisia ou "congelamento". Depois, a vítima passa pelos terrores do trauma e, em seguida, ela acaba coagida, temerosa e impotente diante do caso.

Mais péssimas notícias: até provarem que foram abusadas, a lei demanda um determinado tempo para que sejam feitas as denúncias. Ou seja, além de sofrerem muito, talvez nem se recuperam até o prazo estipulado. O que também não deixa de ser atordoante é o fato de que para realmente provar que houvera atentado violento ao pudor, a vítima tem que apresentar lesões físicas ou sêmen pelo corpo. Somente sua palavra não basta como é o caso de cada uma que esteve na Casa. Mas algo que me chama muito a atenção, senhoras e senhores, é o que todas elas chamaram de "corrente malígna". Aliás, o silêncio de muitas permaneceu porque temiam ser perseguidas por "ondas negativas" e outras "energias maléficas".

De fato, pessoal, a mente da pessoa acaba num grau de superstição tão elevado que, mesmo estando consciente da situação, ela também não reage por conta dos receios embutidos pela doutrinação. Ou seja, João de Deus, de fato, soube interferir bastante no que a psicologia denomina de cérebro emocional. Isso gera auto-sabotagem e automutilação em consequência de não haver equilíbrio da razão. Em resumo, o indivíduo que deveras estava encarnando o próprio demônio impedia aquelas pessoas de ter algum tipo de atitude porque além da violência abusiva, havia outro elemento sádico: manipulação psicológica. Isso tudo sem contar a vulnerabilidade emocional das vítimas, todas com o desejo inevitável de se curar. Neste ponto em que chegamos, minha gente, só nos resta a colaboração da Lei que infelizmente pode não colaborar da forma que esperamos. Lamentável. Não?

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