Buscar no site

Uma crônica sobre um passeio

COLUNISTA - Gustavo Castanhas

Divulgação

  • 21/01/20
  • 18:00
  • Atualizado há 221 semanas

Fui a um passeio no parque.

O sol de verão brilhava logo acima de minha cabeça, sentei-me debaixo de um velho pinheiro e comecei a observar tudo ao meu redor, lá haviam dezenas, se não centenas, de pessoas que aproveitavam o dia maravilhoso que seguiria.

Dona Maria estava lá, com sua pele já enrugada por causa da idade e seu corpo frágil, passeava calmamente pela grama macia com sua irmã, também de idade que recentemente perdeu o marido para o tempo da vida, e que ainda sim resolveu sair para apreciar o lindo jardim que lá existia.

As flores brotavam de todos os cantos com um aroma doce e suave, lembrando o mais belo dos perfumes e possuíam lindas cores, do amarelo ao vermelho vinho. Eles estavam ali por tempo suficiente para ver Madeline e François se tornarem noivos e Lucia e Guilherme se tornarem estranhos.

O doutor Leandro também passeava por lá naquele dia, sua esposa o havia deixado pois não suportava sua ausência devido ao trabalho, as pessoas diziam era apenas desculpa para sair com outras, mas quem o conhecia sabia que ele a amava como ninguém, e para piorar seu desalento sua filha, que passeava junto a ele, fora diagnosticada com uma grave doença cuja cura dependeria apenas de um milagre.

Os pitangus e bem-te-vis enchiam vida àquele imenso mar de folhas e flores com seus cantos que faziam o pequeno Leonardo se questionar se cantavam sobre a dor ou sobre amor, sobre a vida ou morte, resposta essa que nunca terá, mas tudo bem pra ele, pois não deixava de ser linda a melodia do sabiá.

Senhor João, o sorveteiro da região, caminhava alegremente com um pacote em mãos, seu sorriso largo no rosto dizia que as vendas haviam ido satisfatoriamente bem, tão bem que passara numa loja de brinquedos, onde comprou uma boneca para sua filha mais nova, a pequena Alice.

As árvores daquele parque subiam aos céus de forma quase celestial com suas folhas verdes e seus ramos que se estendiam para todas as direções possíveis deixava aquele lugar como se fosse a magnum opus de Renoir.

Próxima a mim havia também uma garota cujos cabelos castanhos e olhos verdes reluziam majestosamente conforme se balançava alegre enquanto cantarolava uma música qualquer.

Eu nunca em minha vida vi criatura mais magnífica que aquela, nem Machado de Assis poderia, em seu mais lindo livro, descrever tal beleza estonteante. Nesse dia senti pela primeira vez o que era amor, um amor que veio com aroma de margarida, com o som do vento entre os galhos e as risadas dos pequenos que ali brincavam.

Em meio a todas aquelas pessoas e a paisagens dignas de uma pintura surrealista, há uma força que faz com que até os piores problemas do mundo não passem de meras distrações, pois é naquele jardim, com tulipas e rosas espalhadas por todos os lados e árvores que ultrapassam o limite da vida, que as pessoas se encontram e esquecem completamente de suas frustrações e arrependimentos.

E é em meio a vida que habitava aquele jardim cujas plantas causariam inveja no Éden que encontrei o amor.

E tudo ganhou vida naquele passeio no parque.

Receba nossas notícias em primeira mão!

Mais lidas
Ver todas as notícias locais