A questão vai além da falta de chuvas
COLUNISTA Professor Thiago Hernandes
Ao entrarmos em contato com quaisquer veículos de comunicação, além das corriqueiras notícias ligadas ao Covid-19 e aos eventos da CPI, também de forma cada vez mais recorrente nos deparamos com um "novo" acontecimento, refiro-me aos baixos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas no país.
Internacionalmente reconhecido como um grande usuário da matriz hidráulica para a geração de energia elétrica, o Brasil tem hoje nesta fonte, mais de 60% da energia elétrica consumida, sendo o restante oriunda de outras fontes como as termoelétricas, solar, eólica, biomassa e até mesmo a nuclear.
Porém, mais uma vez o país vê seu cenário energético posto a prova, visto que com chuvas em menor volume, a maioria dos reservatórios, sobretudo os da região Centro-Sul operam em níveis inferiores aos classificados como seguros.
Como efeito, mais térmicas acionadas, as tarifas ficam mais caras, uma vez que o custo de geração é maior.
Entretanto, além desta questão outras se levantam. Será que o baixo nível dos reservatórios é o resultado tão somente das chuvas mais irregulares ou outros acontecimentos contribuíram e continuam contribuindo?
Face a estas indagações e com base em observações de dinâmicas de diferentes ordens, não podemos deixar de considerar os efeitos de décadas de desmatamento, ocupações irregulares, manejos inapropriados do solo e a retirada excessiva de água do solo para diferentes fins.
Mas sabendo do fato, bem como dos agentes causadores, o que pode ser feito para a resolução ou mesmo o atenuamento dos efeitos?
Para tal, cito:
- Maior rigor por parte do poder público na fiscalização dos pontos de captação de água subterrânea e superficial,
- Uso responsável da água nas diferentes atividades humanas: agropecuária, industrial, recreação, comércio e serviços além do doméstico;
- Controle dos processos de crescimento urbano, sobretudo em áreas de interesse ambiental;
- Reflorestamento das áreas previstas por força de Lei - Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente;
- Manejo adequado do solo nas atividades agropastoris;
- Severa punição aos que violem as normas legais;
- Ampliação de novas fontes de energia para ficarmos menos "reféns" de uma matriz;
Tenho pleno conhecimento que este é um tema amplo e complexo, cujas deliberações e medidas de enfrentamento demandam o equilíbrio e sinergias de vários interesses, possibilidades, conhecimentos e necessidades, todavia, se nada de eficiente for feito rapidamente e em grande escala, cada vez mais nos depararemos com situações como estas.
A natureza dá seus sinais, as contas chegarão de forma cada vez mais intensas e apesar do meio ambiente ter todo o tempo do mundo para se regenerar, nós humanos não temos e nem teremos.
Cabe a nós de forma individual e coletiva, isolada e institucionalizada, agir enquanto há tempo na busca daquilo que representará nosso bem comum.
É agora ou agora!