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Consciência Negra: uma luta por justiça, memória e igualdade

Coluna escrita por Fernando Cândido de Paula

Fernando Cândido de Paula

  • 20/11/24
  • 10:00
  • Atualizado há 1 semana

Há quem diga que a população negra possui privilégios, mas quais são esses? Foram quase 350 anos de escravidão e até pouco tempo atrás nenhuma reparação histórica. Hoje, 70% dos 850 mil presos no Brasil são negros. A maior parte dos trabalhos precários e informais são ocupados por pessoas negras, sendo que recebem, em média, 61% a menos que as pessoas brancas. Apesar dessas problemáticas, conquistas históricas foram promovidas, principalmente nos últimos 30 anos.

No dia 20 de novembro, nosso país celebra o Dia da Consciência Negra, uma data que vai além do simples registro no calendário do Estado de São Paulo. Instituído em memória de Zumbi dos Palmares, um dos maiores símbolos da resistência negra no país, este feriado é um convite à reflexão sobre o legado histórico, cultural e social da população negra no Brasil, bem como um marco de luta contra o racismo que persiste até os dias de hoje.

Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, dedicou sua vida à luta pela liberdade dos escravizados e tornou-se símbolo de resistência e coragem. Diferentemente do 13 de maio, quando se comemora a assinatura da Lei Áurea, o Dia da Consciência Negra traz uma perspectiva crítica: embora a abolição formal da escravidão tenha sido decretada em 1888, as condições de vida dos ex-escravizados pouco mudaram. A elite agropecuária da época, resistente à abolição, negou a inclusão social e econômica dessa população, perpetuando desigualdades que reverberam até hoje.

Governo Federal - Zumbi dos Palmares - Reprodução/Governo Federal
Zumbi dos Palmares - Reprodução/Governo Federal

O 20 de novembro ganhou destaque por trazer um novo significado a luta negra, valorizando a história de resistência que não foi contada nos livros escolares por muito tempo. É um dia de exaltação à cultura afro-brasileira, rica em manifestações artísticas, religiosas como o Candomblé e a Umbanda, e manifestações sociais, que marcaram profundamente a identidade nacional. O samba, a culinária, às festas populares, a influência africana, todos tesouros culturais que merecem ser celebrados.

Essa conquista também é fruto do trabalho de intelectuais e ativistas como Djamila Ribeiro, que tem sido uma das vozes mais influentes no debate sobre igualdade racial e justiça social. Sua obra e sua atuação no movimento negro amplificaram as discussões sobre representatividade, racismo estrutural e reparação histórica, inspirando gerações a continuar a luta por um Brasil mais justo e inclusivo.

Além da Djamila, conquistas do MNU - Movimento Negro Unificado devem ser exaltadas, como a própria proclamação do dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, a proibição da discriminação racial na Constituição Federal de 1988 e a criação da Lei Caó, de 1989, que tipifica o crime de racismo no código penal. Outras grandes conquistas advindas através de políticas públicas são as leis 10.639/03, que obriga as escolas de ensino fundamental e médio a ensinarem sobre história e cultura afro-brasileira e a Lei de Cotas, que reserva vagas em Universidades Públicas, criada em 2012 e renovada ano passado.

Portando, o Dia da Consciência Negra não é apenas um feriado, mas um marco histórico que nos lembra da importância de reconhecer e combater as injustiças herdadas do passado. Uma conquista que não deve ficar apenas na demagogia, mas sim a oportunidade para refletir sobre a contribuição da população negra para a formação da nossa sociedade e reafirmar o compromisso com a construção de um futuro em que todos possam viver com dignidade e respeito. Que a memória de Zumbi dos Palmares e a força dos movimentos negros continuem a nos guiar na busca por um Brasil verdadeiramente igualitário. Celebrar o 20 de novembro é honrar uma história de resistência e esperança que não pode ser esquecida.

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