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Protestos e mais protestos!

  • 20/06/13
  • 07:00
  • Atualizado há 564 semanas

* Pol Ulysses Guariba
(Junho 2013
)

O país, quase todo, sai às ruas para protestar! Dilma finge que não é com ela e vai tentar disfarçar... Cacoete petista mais que idiota hoje em dia. O povo está com olho arregalado, não agüentando mais imposturas. Explicações do fenômeno vão pulular nos noticiários...

Antes de pensar as razões, um momento de pura emoção...

Fiquei matutando cá comigo! Protestei a vida inteira. Protestei e protestei! De repente, descubro que minhas netas estão nas redes sociais convocando manifestações e açulando o avô.

Geram um turbilhão de lembranças. Dirão alguns, vai protestar assim lá na....

Origem de tudo: greve de tarifas em 1956, moleque da Escola Caetano de Campo, na Praça da República, convocado pelo movimento secundarista, irá testar a macheza puxando cordas dos bondes na Avenida Angélica e colocando paralelepípedos nos trilhos, correndo de motorneiros e cobradores e, ás vezes, de alguns meganhas. Sem razões e sem noção. Uma grande aventura! Depois, descobre-se que era pressão da UNE sobre Juscelino recém eleito. Fizeram as pazes.

Agitação acadêmica com renúncia do Jânio e com a ameaça de deposição de Jango Goulart. Reuniões e mais reuniões, escutando, em rádios especiais da época, a Cadeia da Legalidade do Brizola resistindo aos golpistas no Palácio Piratini em Porto Alegre. Protestos contra militares e contra a invenção do parlamentarismo. Mobilização imensa no plebiscito que arquivou o regime. Muito mais mobilização pelo sucesso do Governo Jango e pelas reformas de base. No trem para o rio com sindicalista, a vibração no comício da Central do Brasil. Grande gritaria, grande decepção.

Protestos e mais protestos contra o Golpe Militar de l964, agora com noção e com militância na Faculdade de Filosofia da Maria Antônia. Bolinhas de gude contra policiais à cavalo na São Bento e na Líbero Badaró. O peso arroxeado das bordoadas no lombo. Reunião dispersada na sede do sindicato dos Metalúrgicos: unidade de estudantes e operários. Cacetadas pela ladeira Tabatinguera até ao Parque Dom Pedro II. Encontros furtivos com o movimento dos praças e soldados nacionalistas, mobilizados contra o golpe Militar de 64. Todos expulsos do exercito, sem piedade, e internados nos porões do navio Raul Soares no litoral do porto de Santos. Sucessão de cassações. Amordaçamento da oposição nacionalista do exercito. Escárnio com a democracia.

Ida para a França em 1965. Por lá, muitos protestos em Aix, Marseille e Lyon, contra a Guerra do Vietnam. Sem poder ser preso, implicava deportação, era duro enfrentar a violência pesada da Garde Republicaine. A estudantada corria a jato. Encontros e reuniões com exilados que lutavam pela restauração da democracia no Brasil. Mundo já globalizado de exilados: espanhóis, portugueses, africanos, sul-americanos e do leste europeu. Visão internacional da luta pela democracia. Experiência memorável...

De volta ao Brasil e às lides acadêmicas. Cai na cabeça do país o Ato Institucional nº 5. Provoca revolta e ensaios de luta armada. Muito improviso, muito voluntarismo. Aventuras sem esperança e sem lastro na sociedade. Guerra árdua contra a repressão do regime militar. Anos de chumbo. Duras penas...

Sucede a resistência, na academia das instituições moldadas pelo regime ditatorial. Em 1976 participamos da fundação das Associações dos Docentes da USP e da UNESP, onde fui o primeiro presidente. As lutas da academia transbordam para a sociedade: inaugura-se o longo processo da redemocratização. Passam a valer o conhecimento e as táticas e as estratégias políticas, mais que os protestos e a violência. O país marcha lentamente para o processo de redemocratização que se estende pelas lutas eleitorais dos anos setenta: as eleições decisivas de 74 e 78, a Campanha pela Anistia e a volta da eleição dos governadores em 1982. Sucede a Campanha pelas Diretas e a convocação da Constituinte. Muita militância, muita interação entre política e sociedade...

Hoje imensa e nova mobilização da sociedade. O Brasil se renova com vigor a partir de suas velhas agruras. Mundão velho das desigualdades sociais, da miséria vexatória e da riqueza extravagante, da necessidade de reformas profundas para se alinhar ao novo mundo e para aproximar a política da sociedade. Nossas mazelas que precisam trato competente: falta de representatividade política de nossas instituições, corrupção, desleixo com a coisa pública e com a sociedade. No novo mundo dos meios de comunicação sem travas e da globalização implacável, os novos processos políticos e sociais vão se resolver numa interação jamais vista no velho século.

Para onde vai caminhar o Brasil? Para onde caminha a humanidade?

Ulysses Guariba. Professor Aposentado da USP

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