Buscar no site

Deus não é solidão

Colunista - Por Diácono Anderson Santana Cunha

Anderson Santana Cunha

  • 13/06/17
  • 07:00
  • Atualizado há 354 semanas

Por Diácono Anderson Santana Cunha

Um dos mistérios essenciais da fé cristã é a revelação de que Deus é único, mas não é apenas uma pessoa. Esta revelação causa um embaraço para nossa mente limitada e nossa ciência calculista. É difícil de compreender como um Deus pode ser três e ao mesmo tempo uno. Jesus passou a vida toda anunciando este mistério: no seu nascimento, na perda e encontro no Templo, no seu batismo, na Transfiguração, na sua morte e ressurreição, e especialmente na sua despedida, quando envia os apóstolos a batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Em todas essas cenas bíblicas, como também em outras, fica claro que Deus é comunhão de pessoas.

Engana-se quem pensa que esta revelação foi facilmente aceita e acolhida. Ainda mais considerando que o povo judeu tinha clareza, após um longo período de amadurecimento, de que Deus é único e que não há outro Deus além dele. O povo de Israel sabia que Deus era como um Pai, mas era extremante chocante que alguém o chamasse de Pai, ou melhor, "papai", como Jesus O chamou. Além disso, o próprio Jesus afirmou ser Deus. Essa nova visão apregoada por Jesus gerou um conflito tão grande com as autoridades religiosas de seu tempo que esse foi um dos motivos da sua condenação.

Há marcas da revelação da Trindade desde a criação do mundo. O Antigo Testamento está cheio de imagens que prefiguram esta revelação que só se torna totalmente evidente em Jesus Cristo. Esta certeza não poderia ser alcançada sozinha, nem mesmo pela fé de Israel nem pela razão humana. Foi preciso que Jesus, ao falar da vida divina, nos revelasse que Deus não é solidão, mas sim comunhão.

Deus, em sua vida íntima vive uma mútua relação. O Pai é princípio de tudo, Ele gera o Filho e do Pai e do Filho procede o Espírito Santo. Essas duas processões, a geração do Filho e a expiração do Espírito Santo, são imanentes, ou seja, acontecem dentro de Deus mesmo, por isso são eternas essas processões. Diferente é o que acontece com a criação do mundo, que é transeunte, ou seja, é algo que Deus faz fora de si. Que fique claro: não se trata de três máscaras que um mesmo Deus usa, nem muito menos três deuses que vivem bem juntos, mas é um só Deus que é uno em divindade e trino em pessoas. A ação divina é inseparável em seu agir, por isso, quando uma pessoa da Trindade age, todas as outras agem também.

Tendo falado da vida interna e íntima de Deus que o próprio Jesus nos quis dar a conhecer, é importante lembrar também que o grande convite de Jesus é para que nós entremos também nessa vida divina. Se Deus é uma intensa relação de amor, esse amor é tão forte que transborda, e atinge o homem. Aquilo que todos os homens, de todas as épocas e espaços, dos sábios aos mais ignorantes, buscaram em suas vidas: a verdade, a felicidade e a beleza, tudo isso eles encontram neste Deus que se revela Uno e Trino.

Com esta revelação fica claro qual é o projeto de amor que Deus tem para a família humana. É a partir da Trindade que todo o amor humano passa a ter sentido e significado. O homem foi feito para viver em comunhão, para amar e ser amado, assim como Deus é em sua vida íntima e como Deus se relaciona com a humanidade: amando até o fim, ou seja, amando o máximo possível. Há digitais dessa vida divina e desse amor divino em cada ser humano, porque ele foi criado à imagem e semelhança do Criador, que é comunhão de amor.

Receba nossas notícias em primeira mão!

Veja também
Ver todas as notícias