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Os libaneses em Assis: Um povo que adotou o Brasil como segunda pátria

O Líbano foi, durante um período, parte do Império Otomano, que se desfez ao final da Primeira Guerra Mundial.

Fernando Nascimento

  • 22/05/23
  • 08:00
  • Atualizado há 47 semanas

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Um povo que deixou sua terra para fugir da perseguição política, econômica e principalmente religiosa do império turco-otomano, a partir do século 19. No capítulo de hoje, da nossa série dos 118 anos de Assis, falaremos sobre como o trabalho (e o amor) dos libaneses ajudaram no desenvolvimento de nossa cidade.

O Líbano é um país do Oriente Médio, banhado pelo mar Mediterrâneo e faz fronteira com Israel e a Síria. Possui uma das cidades mais antigas do mundo, chamada Jbeil (ou Byblos). Evidências arqueológicas indicam a ocupação dessa localidade desde, pelo menos, 5000 a.C, além de atividades econômicas que se desenvolveram no litoral libanês muito antes dessa data.

O Líbano foi, durante um período, parte do Império Otomano, que se desfez ao final da Primeira Guerra Mundial. Após esse conflito, o país passou para a administração da França, e por essa razão o idioma francês é bastante presente ainda hoje no Líbano. Com o advento da Segunda Guerra Mundial e a invasão alemã na França, cresceu no território libanês os movimentos pela sua independência, em 22 de novembro de 1943.

O ano de 1880 foi o marco do início da imigração libanesa, quando o primeiro navio vindo da capital daquele país, Beirute, atracou no porto de Santos. Rapidamente, começaram a se espalhar pelo país, sendo que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará e Goiás foram os estados que receberam a maioria dos imigrantes.

divulgação

Este primeiro fluxo migratório foi impulsionado pela visita do imperador Dom Pedro II em 1876 estreitando o relacionamento entre os países e abrindo as portas do Brasil para a vinda de libaneses. Na época, os jornais árabes escreveram sobre o Brasil, suas riquezas minerais, agrícolas, seus rios. Isto atraiu os libaneses ao que imaginavam ser uma espécie de "Eldorado", em referência à lenda da cidade perdida nas Américas feita de ouro e repleta de tesouros.

O símbolo do país, presente inclusive em sua bandeira, é o Cedro-do-líbano, uma uma árvore presente principalmente na região montanhosa mediterrânea da República do Líbano. Pode durar séculos e é uma das árvores de maior longevidade.

Por causa do domínio do império turco otomano a entrada de sírios e libaneses se dava, até 1892, com passaportes turcos. Entre os anos de 1893 e 1926 os classificavam como sírios, sendo a entrada com passaporte libanês só a partir do ano de 1926. Por essa entrada inicial com passaporte turco, até hoje é comum se referir aos árabes e seus descendentes como "turcos". O que não é aconselhável, eles não gostam (com razão), de serem tratados como turcos ou sírios. Libaneses são libaneses.

O último período de imigração para o Brasil ocorreu entre os anos de 1918 e 1950. Após a Primeira Guerra Mundial, os imigrantes libaneses vão para as regiões sul e sudeste, devido à sua próspera economia. Exímios comerciantes que eram, atuavam principalmente como mascates e caixeiros viajantes, efetuando vendas, em especial nas fazendas de café, conseguindo levantar dinheiro para montar negócios e trazerem suas famílias.

Por aqui, eles estabeleceram-se inicialmente nos arredores da Vila Lex, em Tarumã.

E dois dos expoentes da colônia libanesa em nossa região são Aref Sabeh e Georges Elias Farhat, cujas histórias representam muito bem a chegada deste povo.

divulgação - Georges Elias Farhat e Aref Sabeh - Foto: Divulgação
Georges Elias Farhat e Aref Sabeh - Foto: Divulgação

O Sr. Aref chegou com cerca de 8 anos de idade, em 1951, vindo de Kfair Hazir, com seu pai Yousef, sua mãe Hanne e sua irmã mais velha. Sua família se estabeleceu em atividades comerciais na cidade, em especial lojas de roupas e confecções e uma fábrica de guarda-chuvas. As atividades empresariais cessaram em 2003. Aqui casou-se com D. Jurema e têm dois filhos médicos.

Naturalizado brasileiro, o Sr. Aref estudou na Escola João Mendes Júnior, é formado em Direito pela Toledo de Presidente Prudente, foi secretário da Indústria e Comércio, entre 2005 e 2007, e de Obras, entre 2008 e 2012. Atualmente é vice-prefeito municipal, sempre lutando por benefícios para a cidade, como a iminente vinda do SENAI.

O Sr. Georges desembarcou em Assis, vindo de Aïn Arab, em 1967. Seu pai já morava por aqui desde 66. Sua história de vida foi de muito trabalho. Desde cedo atuou com vendas: fazia viagens quinzenais, de ônibus, para comprar mercadorias em outros centros, e as revendia para lojas da cidade e região. Em certa ocasião, ele conseguiu comprar um Fusca, que pagaria parcelado. Em sua primeira viagem com o veículo, conseguiu fazer uma compra maior, que lhe rendeu o valor de quase quatro fuscas. Graças a seu exímio tino para vendas.

Quando conseguiu abrir sua loja, além de veicular propagandas em rede nacional, na Globo e no SBT, ele sempre prezou pela qualidade das mercadorias, sem explorar ou enganar os clientes, o que lhe rendeu confiança de todos. Mesmo sem estudar no Brasil, seu conhecimento e experiência superaram quaisquer "dificuldades" com estudos. Aqui, casou-se com a D. Ivete, e têm três filhos.

Outras famílias libanesas viveram por aqui, desenvolvendo atividades comerciais, culinárias, de medicina e muitas outras. Os antigos mantinham uma união um pouco mais estreita: realizavam festas com comidas típicas e atividades da cultura materna. Libaneses brasileiros são, em sua maioria, cristãos, e por aqui, muitas missas eram rezadas em árabe, língua oficial daquele país. Assis já teve, inclusive, um clube Sírio-libanês, onde as festas e encontros eram realizados.

Pessoas que saíram de seu país e vieram trabalhar em outro. E que, certamente, sofreram preconceito em algum momento. Exatamente como o jogador brasileiro Vinícius Júnior sofreu em uma partida de futebol na tarde de ontem, na Espanha. Aproveitamos este espaço para dizer que somos contra toda e qualquer forma de preconceito. O racismo, principalmente quando praticado em uma multidão, é desumano e covarde. Toda a solidariedade aos milhões que também sofrem todos os dias, de todas as etnias, em todos os lugares.

Aref e Georges são grandes amigos. Como falamos, típicos representantes da cultura libanesa em Assis. Nossos irmãos libaneses são pessoas que, com seu trabalho e dedicação, ajudaram a escrever histórias de amor e a construir nossa cidade.

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