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'Quando me descobri, o mundo fez sentido aos meus olhos', afirma transexual de Assis

Dia da Visibilidade Trans foi comemorado dia 29 de janeiro

Redação AssisCity

  • 31/01/23
  • 08:00
  • Atualizado há 63 semanas

A auto aceitação talvez seja um dos processos mais difíceis e libertadores do ser humano, assumir seu eu e aceitar as peculiaridades que a vida coloca em seu caminho, faz do indivíduo quem ele realmente é.

Assim como o jovem Danyel Lucas Santos do Nascimento, que logo aos 13 anos, pode descobrir seu novo olhar para o mundo.

"Eu fui criado numa família relativamente tradicional, eles não são religiosos, mas tem aqueles preconceitos que são bem enraizados na cabeça de todos nós, infelizmente. E a partir do momento em que me descobri, foi como se o mundo tivesse feito sentido aos meus olhos, pela primeira vez", explicou.

divulgação - Danyel Lucas Santos do Nascimento, 19 anos - Foto: Divulgação
Danyel Lucas Santos do Nascimento, 19 anos - Foto: Divulgação

Danyel falou sobre as dificuldades da vida de uma pessoa transexual, já que ao mesmo tempo que seu mundo começava a fazer sentido, os preconceitos começavam a tomar forma em sua vida. "A gente enfrenta muito preconceito, desde os pequenos detalhes do dia a dia, até maiores, como físicos e psicológicos".

Hoje com 19 anos Danyel, que é natural de São Bernardo, mas atualmente mora em Assis, fala sobre poder viver a vida da forma que ele se sinta bem. "Hoje moro com meu marido e destaco a importância da saúde pública se importar com as pessoas trans", afirmou.

Transição

Danyel começou seu tratamento em Assis, por meio Grupo integrado de prevenção e atenção a DST E HIV (GIPA), que atua diretamente no processo de transição sexual de pessoas transexuais.

"Eu fiquei surpreso com o atendimento da cidade, a saúde de Assis oferece uma estrutura digna para as pessoas trans, claro que sempre há opções de melhoria, mas não se compara ao tratamento que minha cidade natal oferecia", explicou.

divulgação - Danyel Lucas Santos do Nascimento, 19 anos - Foto: Divulgação
Danyel Lucas Santos do Nascimento, 19 anos - Foto: Divulgação

O jovem destacou a questão do corpo, que em sua opinião, não há uma narrativa, afirmando que cada pessoa tem seus anseios, suas expectativa e ninguém é igual a ninguém. "Existem trans que tem questões com algumas partes do corpo, outras com alguma parte do dia a dia que mexe com a questão do gênero, outras não tem nenhuma, e está tudo certo. O ser humano é diverso!", afirmou.

Para Danyel o processo de transição está sendo uma grande realização, e ele ressalta a importância da rede de apoio. "Por um bom tempo eu me encontrei estagnado para progredir com relação a transição por medo da reação da família, e isso é outra coisa que é muito importante. Já temos o preconceito do mundo para enfrentar, se dentro de casa tivermos acolhimento e respeito, as coisas ficam mais fáceis", destacou o jovem.

Cuidados com a saúde

Um dos principais problemas destacados pelo jovem após a transição, é a falta de opções na saúde pública para tratamentos com urologista ou ginecologista.

"Hoje enquanto homem retificado não sou mais capaz de marcar ginecologista na rede pública, por ser do gênero masculino, mesma coisa ocorre com mulheres trans para marcar urologista e acabamos tendo que recorrer ao particular, mas muitos de nós não temos condições de pagar", explicou.

divulgação - Danyel Lucas Santos do Nascimento, 19 anos - Foto: Divulgação
Danyel Lucas Santos do Nascimento, 19 anos - Foto: Divulgação

Para Danyel essas questões precisam ser trazidas através de políticas públicas e pessoas com voz para lutar pelos direitos das minorias.

Mudanças de nome

Dados compilados pela Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen/SP), entidade que representa os 836 Cartórios de Registro Civil do estado paulista, mostram que no ano passado foram realizados 1.471 procedimentos de alteração de gênero, número 42,7% maior que o verificado em 2021, quando ocorreram 1.031 mudanças. Se comparado ao primeiro ano do procedimento (2018), quando foram 765 atos, o crescimento é de 92,3%.

divulgação - Bandeira que representa pessoas transexuais - Foto: Divulgação
Bandeira que representa pessoas transexuais - Foto: Divulgação

Apesar disso, Danyel ressaltou que falta um padrão nos órgãos públicos para tratarem as questões de identificação das pessoas transexuais.

No caso do jovem o processo foi feito de forma paga, mas ele explicou que há a possibilidade de conseguir através da defensoria pública.

"O fato é que se dez pessoas trans forem questionadas sobre como se deu o seu processo de mudança de nome, você muitas vezes terá dez histórias diferentes, e isso pode trazer muita complicação. A grande parte das divergências se dão devido à falta a instrução dos profissionais, muitas vezes eles querem estar ali para nos ajudar, mas não se tem informação de como proceder, justamente devido à falta de padronização desse processo", explicou Danyel.

Mercado de trabalho

Outro ponto destacado na entrevista concedida ao Portal AssisCity foi as questões relacionadas ao mercado de trabalho, e Danyel contou sobre sua experiência.

"Eu tive muito apoio com relação a essa questão dentro do ambiente de trabalho, e isso é muito importante, é necessário que as empresas se permitam incluir pessoas, pois se não diversificamos o ciclo de convivência diário, o diferente nunca vai ser tratado como algo normal, e isso reforça preconceitos, já que muitas vezes faltam oportunidades no mercado", explicou.

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