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Professor de Ourinhos causa polêmica após fala sobre mulheres em aula online: 'O que é mais fácil estuprar?'

Para explicar aos alunos sobre o processo de dosagem da pena, professor, que também é coordenador do curso em Ourinhos (SP), utilizou declarações que foram criticadas pelos alunos nas redes sociais

G1

  • 17/04/21
  • 10:00
  • Atualizado há 153 semanas

O trecho de uma aula de direito em uma universidade particular de Ourinhos (SP) repercutiu nas redes sociais na sexta-feira (16). Durante a aula online, o professor de direito penal e coordenador de curso disse aos alunos:

"Vamos pensar. O que é mais fácil estuprar? Uma freira de hábito ou aquela menininha com a cinta larga? Fala para mim. Que vítima colabora mais com a prática do crime de estupro? Eu estou falando em tom de brincadeira, mas eu quero que vocês imaginem isso."

De acordo com um dos alunos que estava na aula online, mas não quis se identificar, a declaração ocorreu a terça-feira (13).

Segundo ele, o professor, que é delegado aposentado e coordenador de curso na universidade, usou a frase para exemplificar um assunto da disciplina em relação ao que se leva em consideração para chegar à pena do condenado.

"Ele usou isso para exemplificar, disse que não incentivava, só que ele ia usar como um exemplo. Teve até um momento que ele falou que estava usando esse tom de piada, mas para explicar a matéria. Eu acho que o pessoal ficou um pouco assustado assim com o exemplo", conta o discente.

Em um outro momento do vídeo, durante a explicação, o professor também disse:

"Quem apanha mais? Não estou dizendo que isso tem feito, estou falando para vocês, vamos ser realistas. Quem apanha mais? A mulher passiva, que fica quietinha que vê quando o marido dela chegou de cara cheia, ou aquela que começa 'ai, bebeu de novo, trabalhar que é bom você não quer, né seu vagabundo?' Quem apanha mais? A quietinha ou a bocuda?", declarou no vídeo.

O aluno também contou ao G1 que essas declarações do professor costumam acontecer há vários anos e que estudantes antigos já presenciaram falas parecidas do docente durante a aula.

Para ele, "é preciso tomar cuidado com esse tipo de frase, principalmente professor, porque a gente não sabe quem vai atingir".

"A gente está revoltado por não ter acontecido nada até o momento. A gente quer, nesse momento, que a instituição tome uma atitude. Mesmo em tom de brincadeira, isso não é brincadeira, é um discurso que mata", disse o aluno.

Nas redes sociais, usuários reprovaram a atitude do professor. "Meu Deus, eu estou com o coração acelerado vendo esse vídeo", comentou uma internauta. "Repúdio e responsabilização", disse outro usuário.

Divulgação

'Não foi para ofender'

Ao G1, o professor Fábio Alonso explicou que o vídeo compartilhado é de apenas um trecho de uma aula que teve uma hora e meia de duração. Segundo ele, no momento da declaração polêmica, ele estava desenvolvendo um raciocínio com os alunos sobre o processo de dosagem da pena.

"Um juiz analisa, em um primeiro momento, as circunstâncias judiciais. A pessoa pode ter bons antecedentes ou maus antecedentes e, dentro desse rol, também está o comportamento da vítima", explica.

De acordo com o professor, os alunos retiraram um trecho do vídeo e publicaram nas redes sociais para viralizar. No entanto, ele disse que, se soubesse que a declaração teria tamanha repercussão, não teria utilizado o exemplo.

"Antes de dizer o exemplo, eu disse: 'eu não compactuo com isso, mas quero que vocês entendam que há uma diferença entre o estupro de uma freira de hábito e uma menina de mini saia', não lembro qual termo eu usei em relação a isso", conta.

Fábio também explicou que, em momento algum, imaginou que poderia ter sido interpretado dessa forma e que utiliza esse exemplo nas aulas há pelo menos 15 anos.

"O que eu fiz não foi para ofender ninguém, foi com fins didáticos, e seria algo no mínimo deselegante querer associar com qualquer instituição. A instituição não tem nada com isso. E, em momento algum, eu fiz referência à condição de mulher como vítima", explica.

O G1 entrou em contato com o Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio) para pedir um posicionamento sobre o caso e aguarda resposta.

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