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Convite de funeral

Daniel Freitas

  • 03/01/17
  • 09:00
  • Atualizado há 383 semanas

"Convido Vossa Senhoria e digníssima família para o meu funeral que acontecerá no próximo dia doze deste mês, devendo o féretro sair de minha residência, onde serei velado, em horário a ser definido, com destino a necrópole local. Convido-os também para a Missa de Sétimo dia que minha família mandará celebrar em intenção de minha alma, no dia dezoito do mesmo mês, às vinte horas na igreja matriz desta cidade. Esperando contar com a presença dos estimados amigos, minha família e eu antecipadamente expressamos os nossos sinceros agradecimentos". Ass. Coronel Saturnino.

Esta se deu numa pequena cidade do interior baiano, numa época em que imperava o coronelismo naquela região. Tinha lá o Coronel Saturnino - patente galgada no grito, como era de praxe - que mandava e desmandava, e coitado de quem não lesse em sua cartilha. O Coronel era supersticioso e suas decisões eram sempre baseadas em horóscopo.

Um dia apareceu na cidade uma mulher que se dizia vidente e o povo fazia fila para ver a sorte com ela; o Coronel foi procurá-la e não precisa nem dizer que ele furou a fila. Antes não tivesse ido, porque a suposta clarividente foi tirana para com ele.

- A coisa está feia para seu lado Coronel - disse a mulher.

- Como assim? Quero saber tudo e, inclusive se vou morrer. Diga mês, dia, hora, do que e onde - falou o Coronel.

Após exigir uma alta soma em dinheiro, a mulher satisfez a curiosidade de seu cliente:

- Sinto muito Coronel, mas seu dia está próximo. O senhor vai morrer daqui a uma semana, mais precisamente no dia onze deste mês, pouco antes da meia noite, em sua casa, do coração.

O Coronel acreditou, mandou então confeccionar o convite acima e o distribuiu por toda a cidade, tomando ainda outras providências. A vidente sumiu, claro.

Chegou o dia e o Coronel nunca tinha rezado tanto em sua vida, até de rosário na mão ele foi visto. Vinte e três e trinta, quinze para meia noite... E finalmente o relógio assinalou doze badaladas. O Coronel suspirou aliviado, chamou os capangas e os mandou procurar a vidente.

Realmente houve sim um funeral na cidade um dia após o anunciado no convite, só que foi de uma defunta, que teve também direito a missa de sétimo dia que o Coronel mandou rezar pelo sufrágio de sua alma.

Coisas de Coronel.

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