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Do asilo para a universidade e a escola: encontros de gerações por meio da extensão

Mariele Correa

  • 03/11/17
  • 15:00
  • Atualizado há 337 semanas

* Mariele Rodrigues Correa

Asilo de velhos e universidade parecem ser, em um primeiro momento, espaços dicotômicos e separados entre si, especialmente pelo critério etário. A universidade, dentro dessa lógica, seria o espaço da juventude e o asilo, o lugar da velhice. Contrariando a lógica dos espaços segmentados, a professora Mariele Correa, do Departamento de Psicologia Social e Educacional da FCLAssis/UNESP, iniciou, em 2013, um trabalho no Câmpus de intervenção em Psicologia no qual idosos institucionalizados eram atendidos em grupo, com oficinas temáticas de senso-percepção. Desde 2015, a Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) passou a apoiar o projeto, que expandiu seus objetivos e a população atendida.

O projeto de extensão "Produzindo práticas e saberes na atenção psicológica grupal a idosos residentes em asilos na cidade de Assis" tem como objetivo compreender as especificidades da subjetivação do processo de envelhecimento, a fim de contribuir para a construção de novas possibilidades de atenção e cuidado que atendam as demandas dessa fase tão ímpar da vida.

As atividades oferecidas são relacionadas ao âmbito da Psicologia com grupos de idosos(as) institucionalizados(as) que visam à expansão da subjetividade. A equipe do projeto, que conta com alunas e alunos do quarto e quinto anos do curso de Psicologia e com a docente coordenadora, busca realizar uma interação e integração entre os idosos e a população universitária e também entre os próprios idosos e a comunidade assisense.

Pretende-se, por meio deste trabalho, disponibilizar conhecimentos e estratégias em Psicologia que produzam uma melhor qualidade de vida e promoção de saúde, garantindo acesso dos idosos aos seus direitos civis e políticos e incentivar o reconhecimento da sociedade para com esse público. Além disso, nas atividades oferecidas, são trabalhadas temáticas que objetivam recuperar saberes, aprendizagens e realizações dos idosos e idosas ao longo da vida. No contato com essa população é necessário escutar com atenção e sensibilidade, almejando o resgate de suas histórias e refletindo sobre suas experiências passadas para que, dessa forma, consigam atribuir novos significados a suas vivências.

Como o asilo é um lugar em que os idosos e idosas estão, em muitos casos, distanciados da sua família e do meio social, o projeto procura levá-los para vivenciar outros territórios (universidade, praças, parques, centros comerciais, museus e eventos). Inseri-los em outros contextos sociais, dos quais são muitas vezes excluídos, além de ser oportunidade para estabelecer novos vínculos sociais também proporciona troca de experiências com outras pessoas. Por isso, a saída do asilo para outros espaços se faz necessária.

Em meados de 2016, o projeto ganhou uma nova e significativa parceria e passou a atender, também, alunos e alunas da Escola de Estadual de Ensino Fundamental "José Augusto Ribeiro".

A equipe do projeto, juntamente com as professoras da escola Kedma Marta da Silva e Silmara Dias, oferece uma disciplina eletiva chamada "Conviver é uma Arte", que é oferecida semanalmente a estudantes entre 11 e 14 anos de idade. Na disciplina, são abordadas temáticas referentes ao imaginário de envelhecimento, os aspectos biopsicossociais da velhice e o lugar do idoso e da juventude na sociedade. Além disso, os estudantes realizam várias visitas ao Asilo Lar dos Velhos, com o objetivo de promover trocas intergeracionais. Também os idosos visitam a escola e, ao final de cada semestre, é feito um encontro de todos os participantes do projeto no Câmpus da UNESP/Assis. Nesse projeto em que está envolvida a escola e que veio somar significativamente com a outra experiência de extensão, os estudantes têm a oportunidade de conviver com os idosos, aprimorar a escrita - uma vez que a cada visita se deve produzir um relato - e conhecer a comunidade unespiana, pois a grande maioria dos estudantes da escola nem sequer havia adentrado no Câmpus e tinha conhecimento dos cursos de graduação oferecidos gratuitamente.

Ao longo de todo esse tempo em que o projeto é oferecido, os resultados alcançados confirmam a pertinência e a importância das ações que a extensão propicia. O projeto já foi apresentado em diversos congressos nacionais e internacionais, recebeu três menções honrosas em diferentes eventos, foi premiado no 7º e no 8º Congressos de Extensão Universitária da PROEX, teve várias matérias de jornal publicadas, foi exibido no jornal televisivo da TV Tem (Rede Globo) e foi publicado em revistas científicas e capítulos de livros.

A participação nesse projeto nos mostra que é possível construir outras práticas e saberes de forma dialógica junto à população idosa, inclusive transdisciplinarmente, de forma a promover uma clínica ampliada que se volta para a promoção de encontros potencializadores da vida, de ressignificação da velhice e da adolescência, rompendo com estereótipos e estigmas, e para sua inserção nos mais diferentes espaços sociais, para além de uma instituição de longa permanência, no caso dos/as idosos/as, e ampliar o círculo afetivo dos/as estudantes para além do espaço da escola".

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