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Os Anjos

Kallil Dib

  • 16/10/14
  • 15:00
  • Atualizado há 497 semanas

Quem são os Anjos que me dominam? Onde estão seu tempo, suas invejas e emoções. Quem são os Anjos que fazem dessa terra um lugar para se viver. Minha luz e proteção, meu Anjo.

Eles, que são mensageiros de Deus, iluminam o nosso caminho. Mostram lá no final a luz que tanto faltava. "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou, a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa e me ilumina." Amém!

São crianças, disfarçadas de Anjos, ou vice-versa. Mas, onde estão todos estes protetores de mim mesmo? Quando peço a eles que olhem para o lado, que levem minhas preces até Deus Pai, às vezes eles não me escutam. Pedi que eles acabassem com esse mundo ao contrário.

Não consegui.

Descobri porque os Anjos não me ouviram. Eles desistiram. Estão lá fora, brincando de fazer brincar. Pulam corda, brincam no balanço, na gangorra, de pega-pega, pique esconde, e sorriem como se nada nesse mundo pudesse ainda ser iluminado.

No terreno das lendas que já vi e vivi, os Anjos estão disfarçados. Eles são o céu e o sol, o sorriso e a lágrima. Santo Anjo do Senhor. Parem um pouco com essa brincadeira. Saem do quintal, voltem para dentro de mim, e me escutem.

Vi, ontem, uma chacina que matou jovens sem qualquer motivo; eu vi o pai brigar com a mãe, o filho sair de casa. Vi por esses dias que a mulher grávida perdeu a vida, o seu marido a aniquilou. Anjos, sentem aqui e prestem atenção: eu vi crianças, como vocês, vendendo drogas, e vi no semáforo dessa cidade, outros meninos oferecendo balas. Não era para eles estarem ali. Eu estou vendo tantas e tantas barbáries.

Os Anjos, através de Renato Russo, me responderam: "Hoje não dá. Hoje não dá. Está um dia tão bonito lá fora e eu quero brincar. Mas hoje não dá. Hoje não dá. Vou consertar a minha asa quebrada e descansar".

E assim, sem tendências, sem melhoras. Eu vejo no mundo daqui pra frente um enorme descaso. Um desafeto sobre-humano. Não temos as perspectivas que tínhamos na época de meus avós. Tenho medo! Medo de colocar meu filho nesse universo louco, ouvindo as canções da moda e se interessando pelos vícios da moda. Ah, essa juventude, que nem acredita nos Anjos...

Sentei-me para ouvir a resposta plausível que aqueles cabelinhos encaracolados me diziam. E cantaram, através de Renato:

"Gostaria de não saber destes crimes atrozes, é todo dia agora e o que vamos fazer? Quero voar pra bem longe, mas hoje não dá, não sei o que pensar e nem o que dizer. Só nos sobrou do amor, a falta que ficou".

Kallil Dib - jornalista

www.kallil.com

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