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Após excomunhão, padre Beto viaja o país para realizar casamentos gays

Beto diz que intenção é fazer com que as pessoas realizem sonhos. 'Ele ainda prega a palavra de Deus', diz Danilo que se casa neste sábado.

g1.globo.com

  • 26/06/15
  • 17:00
  • Atualizado há 460 semanas

Pouco mais de dois anos após ser excomungado da Igreja Católica, Roberto Francisco Daniel, conhecido como Padre Beto, tem viajado o Brasil para realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Padre Beto foi excomungado em abril de 2013 pela Diocese de Bauru (SP), após divulgar vídeos na internet onde defendia temas polêmicos, como a união entre homossexuais, fidelidade e necessidade de mudanças na estrutura da Igreja Católica. O padre excomungado já realizou dois casamentos entre pessoas do mesmo sexo em Jaú (SP), um em Belém (PA) e neste sábado (27) viaja para Vitória (ES) para mais uma celebração.

"Eu não consigo ver impedimento neste tipo de união. Onde há amor entre as pessoas, Deus só pode estar presente. Eu acredito que as pessoas que são católicas, não gostariam de um pastor ou um mestre espírita, então eu me tornei uma alternativa. Apesar de ser excomungado e não ir em nome da Igreja Católica, eu sou um padre, continuo vivendo como tal e a mensagem que eu procuro transmitir é uma mensagem cristã que se aproxima muito de quem é católico. Então eu acho que isso vai de encontro com a necessidade deles", explica Beto.

O padre excomungado conta que nunca tinha visto um casamento homossexual, antes de celebrá-los e que acabou encontrando um ambiente diferente do que esperava. "Fui com a impressão de encontrar uma festa diferente, com a presença de mais homossexuais, transexuais e, na verdade, eu me surpreendi. A paisagem social que você vê neste tipo de casamento é muito familiar e não difere em nada dos ambientes dos casamentos heterossexuais", conta.

Para o cabelereiro Fábio Rogério Fornaroli, 37 anos, e seu marido, o maquiador Jonas Rafael Batista, 25 anos, a oficialização com a presença de um padre aumentou a legalidade e o amor durante a cerimônia. O casal está juntos há 10 anos e oficializou a união em outubro de 2014.

"Com o padre Beto foi como se a gente estivesse se casando na igreja, em um casamento normal. Todo mundo tem esse sonho que a gente conseguiu realizar, estava toda família, amigos. Falar o sim para o meu marido no casamento no religioso, o amor aumenta. Se ele não estivesse lá, seria uma festa normal. As palavras que ele falou engrandeceram a festa", lembra Fábio.

O próximo casamento que o padre Beto vai realizar será neste sábado em Vitória. O estudante de arquitetura Danillo Ferreira Barros de Melo, de 22 anos, e o médico Romário Freitas, de 50 anos, se animaram com a possibilidade de ter uma cerimônia completa, não apenas uma benção.

"Somos de família muito católica e ele foi uma alternativa. Íamos fazer o casamento só no civil, mas com o padre Beto, teríamos a palavra de Deus. Com a benção do padre muda muito. Mesmo excomungado ele ainda prega a palavra de Deus e, para gente e para os convidados, isso conta muito", afirma Danillo.

Para Beto quanto mais natural o assunto for tratado, mais comum ele vai se tornar. "Se dois gays, duas lésbicas, dois transexuais resolvem ter uma vida juntos, isso não pode ser algo negativo para a humanidade."

O padre, que já realiza casamentos heterossexuais e "missas alternativas" realizou até o agora apenas casamentos homoafetivos entre homens. Ele afirma que busca levar o amor para as pessoas que querem viver juntas. "Fazer com que as pessoas sejam felizes, realizem seus sonhos. Isso que é importante. Eu acho que o Cristo faria isso. Estaria junto dessas pessoas como ele esteve junto das pessoas que eram mal vistas na sociedade da época."

Segundo o padre Beto, a diferença entre a cerimônia realizada na Igreja Católica é que não tem comunhão e benção nupcial.

Entenda o caso

Roberto Francisco Daniel foi excomungado da Igreja Católica pela Diocese de Bauru em abril de 2013 e oficialmente no dia 15 de novembro de 2014, por divulgar vídeos na internet onde defende temas polêmicos, como a união entre homossexuais, fidelidade e necessidade de mudanças na estrutura da Igreja Católica. Ele foi excomungado após negar retratar-se pelos vídeos divulgados.

Após a oficialização da excomunhão, Beto iniciou uma campanha nas redes sociais com objetivo de obter uma resposta sobre a decisão do Vaticano. Em um vídeo publicado em seu perfil em uma rede social, o ex-sacerdote questiona o Papa sobre o que ele teria feito de errado para ser excomungado e se o Papa teria mesmo assinado a excomunhão, diante da postura mais aberta do representante maior da Santa Sé, mas, até agora, não obteve resposta.

Em janeiro de 2015, o padre começou a realizar missas alternativas em Bauru. Segundo Beto, a celebração é uma resposta ao apelo das pessoas que sentiam falta da missa que ele celebrava. Além disso, as "missas" ajudam Beto a cumprir sua vocação que foi interrompida.

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