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"A bactéria acineto matou minha mãe", diz a filha de dona Helena

A filha da paciente é técnica de enfermagem e diz que sua mãe morreu no HRA em decorrência de infecção hospitalar e não de infarto

Redação AssisCity

  • 28/08/15
  • 08:00
  • Atualizado há 452 semanas

A técnica de enfermagem Nádia Breskott discorda do atestado de óbito expedido pelo médico e alega que sua mãe morreu na última quarta-feira, 26, por conta de infecção hospitalar adquirida no Hospital Regional de Assis (HRA) e não de infarte. De acordo com ela, muitas pessoas morrem diariamente na referida instituição por conta da proliferação das bactérias popularmente conhecidas por KPC e acineto.

Nádia é convicta ao dizer: "o terceiro andar inteiro do HRA está infectado pelas bactérias, e durante o martírio que passei junto da minha mãe, Helena Érica Breskott, de 70 anos, vi diariamente muitas pessoas morrerem em decorrência destes micro-organismos".

O martírio da mãe de Nádia e de sua família, segundo ela, teve início no mês passado quando dona Helena sofreu um inchaço cardiovascular e o tratamento, a princípio, foi iniciado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Mas, como a instituição faz tratamentos de urgência e emergência, e não está voltada para atendimentos de maiores complicações clínicas, Helena foi encaminhada para um hospital da cidade. Nádia conta como tudo começo.

"A minha mãe começou a sofrer o AVCI e o que mais me incomodou foi a lentidão para arrumar um leito de UTI no lugar; os aparelhos estão quase todos quebrados. Fizemos uma denúncia, aí o juiz determinou que se não arrumassem vaga para ela, junto do acompanhamento de um neurologista, a instituição seria penalizada a pagar uma multa de R$ 10 mil diários. Depois de três dias arrumaram um neurologista para acompanhar a situação e foi constatado o problema. Depois de alguns dias, a minha mãe foi para a área clínica do Hospital Regional de Assis; lá os nossos pesadelos aumentaram", conta.

Nádia comenta que sua mãe ficou internada alguns dias no HRA, e depois de um determinado tempo, uma médica disse que ela estava infectada pela bactéria acineto.

"A doutora disse que minha mãe deveria ficar isolada para não contaminar mais pessoas. Fiquei indignada com a situação, pois antes de ir para o Regional, ela não tinha bactéria alguma, mas a médica insistiu dizendo que não pegou o acineto no local", diz.

Segundo Nádia, a companheira de quarto da sua mãe adquiriu a também mortífera bactéria KPC no Hospital.

"O filho da dona Geni, que era companheira de quarto da minha mãe, está revoltadíssimo com a situação; queremos uma solução urgentemente. A minha mãe morreu de acineto, se os pacientes não morrem desta bactéria, acabam morrendo pelo KPC, que também acomete muitas pessoas", se indigna.

De acordo com Nádia, sua mãe passou muito mal, de modo que começaram a aparecer feridas pelo corpo e a paralisar as funções vitais, até que a mesma veio a óbito na última quarta-feira, 26.

Na visão da filha de dona Helena, as condições do HRA causaram a morte de sua mãe, pela bactéria acineto.

Confira as acusações de Nádia:

"Estou revoltada com a displicência; o médico alegou que minha mãe morreu devido às complicações da sua idade, em seu atestado de óbito foi alegado que faleceu por conta de um infarto; a acineto causou lhe as complicações e não é como eles tentam camuflar dizendo que foi um simples infarto", reclama.

"O maior problema em relação ao HRA é que não fazem o isolamento do local para a eliminação das bactérias e nos atestados de óbitos, os médicos camuflam os resultados, como fizeram com minha mãe. Eles não colocam que a morte foi por conta das bactérias. Isto é inadmissível", acusa.

"Outro problema também que acontece no local é que os pacientes recebem alta mesmo estando com as bactérias KPC e acineto, e ficam sujeitos a morrerem em casa, além de transmitirem a patologia a toda população. Alguma coisa precisa ser feita", diz.

Segundo Nádia, é possível fazer o controle das mortíferas bactérias. A solução, na sua visão, é o isolamento do local para uma nova pintura, de modo que os seres patológicos possam ser removidos do terceiro andar, antes que possam contaminar as demais áreas do HRA.

"Ao longo dos 39 dias que fiquei com minha mãe, vi alguns profissionais preocupadíssimos com a insalubridade da instituição. Alguma coisa precisa ser feita urgentemente ou todos nós estaremos sucessíveis a morrer por conta disso. Se alguém for fazer uma pesquisa no cemitério da cidade é possível fazer um levantamento de quantas pessoas que morrem diariamente e que saem do terceiro andar do local", sugere.

Nádia informa que a família vai pedir ao juiz exumação do corpo da dona Helena.

Nádia ressalta que a Universidade de São Paulo (USP) e UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) fizeram estudos sugerindo que os hospitais que possuem estas bactérias sejam isolados para o controle, e se atingirem o organismo humano, o controle pode ser feito de um modo que aconteça também o isolamento. Na sua óptica, estes estudos devem ser seguidos.

As bactérias mortíferas:

KPC- (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase é um micro-organismo que foi modificado geneticamente no ambiente hospitalar e que é resistente aos antibióticos, fato este que tem assolado muitos hospitais do País.

Os sintomas são os mesmos de qualquer outra infecção: febre, prostração, dores no corpo, especialmente na bexiga, quando a infecção atinge o trato urinário, e tosse nos episódios de pneumonia.

No geral, os sintomas da bactéria KPC são como o de outras infecções, tais como: febre, dores na bexiga e tosses. A infecção acontece basicamente por contato com secreção ou excreção de pacientes infectados.

Acineto - (Acinetobacter baumannii) é uma bactéria multirresistente e antiga e está presente nos hospitais, mas ao longo dos anos, devido ao uso indiscriminado de antibióticos, foi se tornando resistente.

Existe tratamento para os pacientes que contraem a infecção, exceto quando o doente é portador de uma doença grave, a exemplo de um acidente vascular cerebral em uma pessoa com mais de 80 anos, por exemplo.

O outro lado:

A equipe de reportagem do AssisCity entrou em contato telefônico com o Hospital Regional para falar com a diretora do mesmo, mas não obteve êxito e foi encaminhada para falar com a assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Saúde, que encaminhou o seguinte parecer:

"O Hospital Regional de Assis informa que a paciente Helena Érica Breskott foi transferida no dia 24 de julho deste ano, com diagnóstico de AVCI (Acidente Vascular Cerebral Isquêmico). Além disso, foi constatado na paciente algumas comorbidades, como diabetes mellitos; hipertensão arterial; e insuficiência cardíaca congestiva grave. Devido a tais complicações, a paciente contraiu infecção de trato urinário, mas logo foi medicada com antibiótico. No entanto, na semana em que foi iniciado o seu processo de alta hospitalar, na noite do dia 25 de agosto, a paciente faleceu em decorrência de uma parada cardiorrespiratória, sem qualquer relação com possíveis infecções. Portanto, não procede as alegações feitas pela filha da paciente. O Hospital Regional de Assis lamenta pelo falecimento de Helena Érica Breskott e manifesta seus sentimentos de luto e pesar aos familiares neste momento tão delicado".

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