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Liberdade, liberdade...

Estendo as condolências aos meus parceiros de profissão

Kallil Dib

  • 12/08/15
  • 17:00
  • Atualizado há 457 semanas

Se um dia me disseram 'liberdade', talvez eu não ouvi direito, ou então, não entendi o que tal palavra significava. Perguntei a outras linhas sábias: "Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, é a sensação de estar livre e não depender de ninguém..."

Sou jornalista e tenho minhas dúvidas quando o assunto é a senhora Liberdade. Você já deve imaginar a que tipo dela me refiro. Muitas vezes as linhas que aqui você lê, são algemas disfarçadas ou bombas prestes a incomodar alguém. Sim, me refiro a essas que virão logo abaixo.

Não se assuste, caro leitor. Apenas irei expor neste espaço alguns argumentos relativos à minha profissão e sei que a carapuça vai servir para muita gente...

Estou cansado. Os ponteiros do relógio já se juntaram no escuro do quarto. Há por aqui apenas uma janela aberta, um som da meia noite e de meus dedos encontrando as teclas apagadas deste calejado teclado. E um café para me acompanhar.

Essa velha cadeira carcomida pelo tempo já me seguiu por entre histórias e histórias. Hoje ela canta a música de Chico, versando neste fatídico texto libertário: "Alô, liberdade..."

Dizem os mais experientes que a dor da ditadura jamais passará. Nem ao menos o gosto doce da mudança irá tirar o nó na garganta daqueles que enfrentaram os tempos em que falar era sinônimo de coragem.

Mas, poderão concordar os focas e dinossauros: pior que isso, e aqui não cabe qualquer comparação com o passado, é viver em um tempo onde expressão e liberdade se confundem em pré-julgamentos e em teorias que levantam a bandeira de que vivemos em um país onde qualquer cidadão tem o direito de se expressar, agarrados no conceito democrático, muitas vezes desconhecido e mal interpretado.

Não, não posso escrever aqui o que gostaria que você lesse. Isso prejudicaria a mim e a você que poderia deixar de acompanhar meus próximos textos. Digo isso, pois, já tive a dolorosa experiência de receber severas retaliações sobre minhas opiniões e meus contundentes argumentos sobre assuntos sociais, políticos e ideológicos.

Já me disseram que a sua liberdade, a de expressão que vem ao caso, acaba quando interfere na do próximo. Concordo, respondi. E disse, ainda, que minha opinião pode ser interpretada de diversas maneiras, gerar inimizades e cumprimentos, ser contestada e entendida, recortada ou amassada. Mas deve ser respeitada. RESPEITADA!

Existem por aqui alguns assuntos em que os nossos subconscientes engravatados nos aconselham a não falar, e como de praxe, a política está no meio. Cidade pequena sofre com isso. A inversão de valores é imoral: não falar é ter liberdade de expressão.

A confusão se dá quando suas opiniões não dialogam com a de outros, que são momentâneos ocupantes de cadeiras administrativas. O jogo político de nosso país chega a enojar as páginas de jornais e revistas compradas para falar bem desse ou daquele partidário. Isso também significa que qualquer um que ousar dizer o que não se quer ouvir será posto contra os muros da liberdade.

Compreender e respeitar é muito difícil para as pessoas. Culturalmente, talvez pela doutrina imposta por veículos de massa e por retaliações da opinião pública, abaixar a cabeça é a alternativa plausível para se livrar deste mundinho perdido. Eu gostaria de dizer aqui o que não concordo, sem que minutos depois alguém diga para eu rever as minhas argumentações.

Eu sigo em frente. Sei que é complicado lidar com conceitos e pré-conceitos. A senhora Liberdade existe aos cegos. A opinião é abafada. O negro é injustiçado. A mulher é desrespeitada.

No samba de roda que os jornais anunciaram, homens e mulheres jogavam capoeira. Era lá que, ao fundo, eu ouvia a música da moda: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós. E que a voz da igualdade, seja sempre a nossa voz..."

Kallil Dib - jornalista

MTB 75854/SP

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