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O que disseram as urnas?

José Benjamim

  • 24/10/16
  • 17:00
  • Atualizado há 392 semanas

Com a intenção apenas de colaborar para a compreensão da política local, sem qualquer pretensão de ser dono da verdade, vamos considerar, primeiramente, a não reeleição do atual Prefeito, promissor político da nova geração. Ela era mais ou menos prevista, nas pesquisas eleitorais informais que corriam na cidade. Apesar do alinhamento com o Governo do Estado, a administração atual não deslanchou o suficiente para colocar seu protagonista principal como candidato imbatível.

Algumas das características do governo que finda parecem ter concorrido, embora sem exclusividade, para a rejeição popular. Em primeiro lugar, a situação financeira herdada, bastante desfavorável, seguida imediatamente pela crise econômica que abalou o país, o que não permitiu avançar muito em políticas públicas capazes de conferir popularidade ao seu governo. Depois, o alto grau de desarticulação política de sua administração (pouco disposta a alianças e às voltas com uma oposição ferrenha da maioria dos vereadores durante a maior parte do mandato), agravado pela pouca expressão técnica e política de sua equipe (salvo raríssimas exceções).

Outro ponto que merece ser considerado é a deficiente comunicação com a população, sobretudo a população mais pobre, deficiência responsável, voluntária ou involuntariamente, por criar uma imagem, verdadeira ou falsa, não importa, de administração pouco voltada ao atendimento de suas demandas. Algumas decisões impopulares, ainda que corretas, não foram suficientemente trabalhadas, de modo a superar oposições. O fechamento parcial de um dos postos de saúde de bairro, tecnicamente justificável, acabou sendo, politicamente, um desastre. Também algumas decisões na área da educação foram politicamente desastradas.

Mesmo iniciativas em que indiscutivelmente inovou e melhorou para a população em geral, como na saúde, com a implantação dos serviços do SAMU e do UPA, e o fechamento do antigo e execrado Pronto Socorro Municipal, não conseguiu o necessário reconhecimento, talvez por falta de uma comunicação adequada. A criação de um curso municipal de medicina (opção cujo acerto só o tempo dirá) também não rendeu dividendos políticos significativos. Não ter conquistado apoio relevante na população mais pobre foi fatal para a pretensão de se reeleger.

Finalmente, registre-se uma das características principais e recorrentes da política assisense: a união de todos os descontentes e alijados do poder em torno do candidato com mais chances de derrotar a situação, formando-se alianças oportunistas de conveniência, verdadeiros sacos de gatos (de curta duração, acrescente-se...).

A administração que finda teve dois méritos. Primeiro, o de ousar formar, na sua maior proporção, uma equipe inteiramente nova de governo, rejeitando as figuras carimbadas de duvidosa competência (na sua maior parte), que têm circulado nos gabinetes da Prefeitura nos últimos 20 ou 30 anos. Outro mérito foi a postura política correta e elogiável de não negociar a governabilidade a qualquer preço. Mas esses dois pontos, em princípio positivos, foram mal calibrados. Conduzidos de modo intransigente, dependiam muito, para o seu sucesso, de uma articulação política adequada, de um diálogo direto com a população e de uma efetiva liderança de cada membro de sua equipe em seus respectivos setores, que se traduzisse em eficiência, popularidade e dividendos políticos, o que não ocorreu. Com poucos recursos, a administração tendeu a manter-se na retranca, tolhida por um certo autismo defensivo e um viés um pouco elitista, incapaz de neutralizar a evidente má vontade de um legislativo abertamente hostil. De qualquer modo, foi uma tentativa válida de um modo talvez mais correto de fazer política. Mas faltou experiência, alguma flexibilização e comunicação eficiente.

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