Buscar no site

Após morte de gestante, candidomotense dá depoimento sobre perigo da Síndrome Hellp

O médico especialista, doutor Milton Burlim Junior, também fala sobre como fazer o diagnóstico corretamente

Redação AssisCity/ Fotos: Divulgação

  • 01/08/18
  • 13:00
  • Atualizado há 299 semanas

Neste final de semana, a enfermeira Patrícia Souza, de 33 anos, faleceu após complicações durante a gravidez, em Assis. Patrícia estava grávida de seis meses de uma menina, que não resistiu e também veio a óbito.

Tudo indica que ela teve uma pré-eclâmpsia, doença que pode acarretar o aumento da pressão arterial em gestantes, e que pode ter evoluído para a Síndrome Hellp.

A candidomotense Joicy Fontana Frazão Gonçalves sentiu na pele os riscos da mesma síndrome. Ela teve complicações após o parto do seu bebê Henrique, que hoje já está com quatro anos de idade.

"Eu tive a Síndrome no período pós-parto. Meu filho nasceu de parto normal com 36 semanas e com ele foi tudo bem, não precisou de maiores cuidados. Pelo fato dele ser prematuro, ele teve um quadro de sopro no coração, mas que fechou e não ofereceu riscos. Durante a gravidez, minha pressão subiu. Eu tomei medicação pra controlá-la e tinha as mãos e os pés bem inchados, mas só isso", afirma.

Os problemas da Síndrome apareceram após o parto, quando a pressão de Joicy chegou até a zerar.

"Depois do parto, eu já estava no quarto, quando comecei a passar mal. Minha pressão começou a cair e eu tinha muita dor na barriga. A enfermeira dizia ser normal, até meu médico chegar e me diagnosticar com atonia uterina. Foi feita uma histerectomia para conter a hemorragia uterina, mas depois a hemorragia voltou. Dessa vez, no corte que foi feito para a cirurgia. Eu tomei várias bolsas de sangue, a função hepática ficou comprometida e minha pressão variou, entre subir bastante e até a zerar", explica.

Joicy disse que sofreu com anemia, além de muitas manchas roxas pelo corpo e o grande inchaço.

"Só depois de uns 20 dias é que desinchei, a anemia melhorou, mas a pressão ainda continuou alta. Isso tudo foi em 2014 e atualmente só tomo remédio para hipertensão, que foi a herança que a Síndrome Hellp me deixou. Li muito sobre a doença e agradeço muito a Deus por ter sido vítima após o parto, pois eu poderia ter perdido meu filho. Existem mulheres que têm sintomas mais característicos, mas eu não tive. Não sei se ter mais conhecimento sobre a doença poderia ter me ajudado, mas essa é uma doença muito traiçoeira e no meu caso foi silenciosa. A gente escuta falar muito sobre eclâmpsia, mas a Síndrome Hellp é pouco falada", salienta.

Mas no que consiste a Síndrome? A equipe do AssisCity conversou com o médico ginecologista e obstetra, doutor Milton Burlim Junior. Ele falou sobre essa doença que atinge cerca de 15% das pacientes com pré-eclâmpsia e que é muito perigosa.

"Na grande maioria das vezes, a Síndrome Hellp acontece em pacientes que já apresentam um diagnóstico de pré-eclâmpsia. A pré-eclâmpsia é uma condição na qual a gestante tem o aumento da pressão arterial e que necessita de dois fatores para acontecer: a hipertensão e a perda de proteína pela urina. A pré-eclâmpsia pode variar entre leve e grave, a depender dos níveis de oscilação da pressão arterial e das lesões que possam aparecer simultaneamente, como alteração da função renal, dos fatores de coagulação ou da função hepática. Também é possível haver outras alterações relacionadas à mãe e ao feto, como restrição de crescimento intrauterino, descolamento prematuro de placenta, além de eventos complicativos como Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou alterações do fígado, por exemplo", afirma.

Segundo o médico, o agravamento da pré-eclâmpsia pode se desenvolver para a eclâmpsia propriamente dita.

"A pré-eclâmpsia tem um agravamento que é chamado de eclâmpsia, ou seja, quando ocorre a perda da consciência da paciente por um quadro convulsivo. Existem sinais que preocupam bastante o médico obstetra. A paciente apresentando dor em faixa na região do estômago, alterações visuais, dor de cabeça com pressão na nuca ou vômitos são alguns sintomas que já nos indicam um sinal de maior gravidade da doença. A partir desse momento, podemos colocar a paciente com iminência de eclâmpsia e ela deverá passar por tratamento adequado", salienta.

O doutor Burlim Junior esclarece que, as gestantes que apresentam Síndrome Hellp já são, em 95% dos casos, diagnosticadas com pré-eclâmpsia.

"A sigla de Hellp faz menção, em inglês, ao quadro de Hemólise, elevação das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas, que são os principais sintomas da síndrome. Na maioria das vezes, cerca de 95% dos casos, a Síndrome está associada a um quadro de pré- eclâmpsia. Em contrapartida, 15% das pacientes com pré-eclâmpsia podem evoluir para a Síndrome Hellp, que é um número relativamente alto. Atualmente, a principal causa de mortalidade materna no Brasil são as doenças hipertensivas, que incluem todas essas que citamos anteriormente. A Síndrome com certeza é a complicação mais preocupante da pré-eclâmpsia, com uma taxa de mortalidade que gira em torno de 25%, quando não associada a lesões graves", acrescenta.

O médico ressalta que os principais órgãos que podem ser afetados são o fígado e o cérebro.

"No caso do fígado, a principal lesão é distensão da cápsula hepática. Nosso fígado é revestido por uma membrana, que fica inchada devido ao aumento do volume circulatório de sangue, causado pelo quadro hipertensivo. Como o fígado é um importante órgão coagulador, a paciente pode apresentar algumas lesões e deterioração na função de coagulação. A ruptura hepática é uma lesão extremamente grave e talvez uma das maiores complicações na obstetrícia, com a taxa de mortalidade girando em torno de 98% nestes casos. No caso do cérebro, não é incomum acontecerem Acidentes Vasculares Cerebrais, hemorrágico, na maioria das vezes", salienta.

Mas como evitar? O doutor Burlim Junior ressalta que o principal elemento contra complicações mais graves é o acompanhamento pré-natal.

"É essencial para o diagnóstico destas possíveis complicações que a paciente faça acompanhamento com o profissional qualificado. Um pré-natal bem feito é importante para diagnosticar e, principalmente, reduzir as mortalidades. Quando feito o diagnóstico, a gestante deve ser tratada, encaminhada ao serviço de pré-natal de alto risco e ser acompanhada por um médico de referência em obstetrícia. Há como fazer o diagnóstico prematuro e o mais importante é: sentiu alguma alteração? procure o médico. Esse é o melhor caminho para evitar doenças graves como estas e preservar a vida da mãe, assim como a do bebê", conclui.

Joicy Fontana Frazão Gonçalves com o filho Henrique, atualmente com 4 anos

Doutor Milton Burlim Junior é médico ginecologista e obstetra

Receba nossas notícias em primeira mão!