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A hipocrisia de Bragato

Sérgio Vieira

  • 08/04/14
  • 11:00
  • Atualizado há 525 semanas

*Por Sérgio Vieira

Parafraseando o ex-jogador de futebol e atual comentarista da TV e rádio Bandeirantes, Neto, só posso dizer que o deputado Mauro Bragato, do PSDB, "está de brincadeira". Ele comanda na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo uma "Frente Parlamentarista em defesa das Ferrovias". Nada mais justo, já que as ferrovias no Estado de São Paulo estão abandonadas e sucateadas. No Vale do Paranapanema, nem se fala. Afinal, ele está agindo como um deputado estadual deve agir.

Entretanto, o que Bragato não fala e deveria falar é que as ferrovias chegaram a esta situação justamente porque o governo que ele representa, o PSDB, é quem privatizou a antiga Fepasa na década de 1990 quando Mário Covas assumiu o governo do Estado e a entregou ao governo federal, na época sob o comando de outro tucano, Fernando Henrique Cardoso, para que promovesse a sua privatização. A entrega da Fepasa foi para abater dívidas do Estado de São Paulo. Incontinenti, o governo tucano privatizou a Fepasa e várias outras estatais. Privatizou, não. Doou. O resultado é isso que estamos vendo.

Agora, Bragato, com claro sentido eleitoreiro - afinal, estamos vivendo um ano eleitoral - se coloca como líder desta "Frente" procurando exigir da ALL que recupere e invista no vilipendiado trecho de ferrovia que vai de Botucatu a Presidente Epitácio. O que a ALL fez, após receber este trecho. Simplesmente usou, e como viu que não dava lucro, o desativou.

Empresa privada age dessa forma. Não deu lucro, simplesmente desativa. O que o governo tucano não sabe, assim como o deputado, é que ferrovia é uma área que deve ser tocada pelo Estado. E nunca deveria ser doada como foi na época por Covas e FHC. O resultado deste descalabro é que todo ramo ferroviário do Vale do Paranapanema foi destruído e sucateado, com vagões apodrecendo ao longo da ferrovia e estações de trem depredadas e caindo aos pedaços. Um cenário dantesco.

É importante ressaltar que, eu não sou contra as privatizações em princípio. Quero deixar claro que não há nada de ideológico nisso. A grande briga tem sido - como a de milhares de sindicalistas e de brasileiros - pela forma como a privatização aconteceu no Brasil. Todo mundo sabe que houve uma doação do patrimônio e, em muitos casos, é como se você oferecesse a alguém a compra de sua casa, e ainda desse o dinheiro para o comprador pagá-la.

O caso da Fepasa foi um dos que mais me deixou indignado. A Fepasa tinha onze mil vagões, quase mil locomotivas, cinco mil quilômetros de malha férrea e foi privatizada, doada pela vergonhosa quantia de R$ 260 milhões, dos quais R$ 60 milhões foram pagos de entrada e o resto em prestações trimestrais por 25 ou 30 anos. Essas condições foram totalmente absurdas. Vimos, logo em seguida, os compradores diretos da Fepasa terem empréstimos de mais de R$ 200 milhões no BNDES. O ponto que tentamos colocar é que nenhum chefe de família vende uma casa que vale R$ 100 mil por R$ 10 mil, ou uma casa que vale R$ 10 mil por R$ 1 mil. É o que aconteceu no Brasil e o que aconteceu na Fepasa. Um patrimônio bilionário arrendado por, na verdade, um desembolso de R$ 60 milhões.

Isso nunca existiu em país nenhum do mundo. Inclusive na questão dos gastos que, como sempre, o Estado fez para "preparar" a estatal para ser vendida, que é aquilo que todo mundo conhece: os programas de demissão voluntária. O Estado, o contribuinte, arcou com isso. Então, a privatização no Brasil, é realmente de indignar. No caso da Fepasa, sabendo a prioridade que existe no transporte ferroviário em outros países, é o de pegar 5 mil quilômetros de malha e entregar como privado nas condições como ocorreu, continua sendo inadmissível para mim. E agora o deputado Bragato vem com esta história de defender as ferrovias desta região do Estado todas sucateadas. Por favor, cobre isso do Covas e do FHC, assim como de todo o PSDB, partido ao qual o senhor pertence.

Sergio Vieira é jornalista

* Por Sérgio Vieira

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