Médico de Assis burla sistema e toma uma dose da CoronaVac e outra da Astrazeneca

O médico assisense Oliveira Pereira, alergista e pneumologista, tomou a primeira dose da CoronaVac, do Instituto Butantan, no Hospital Regional de Assis e, 6 dias após, quando foram disponibilizadas doses da vacina para a Cooperativa Unimed, o médico também recebeu a primeira dose, só que desta vez da Astrazeneca, da Fiocruz. O fato só se tornou conhecido porque o próprio médico divulgou em suas redes sociais ter recebido doses de vacinas diferentes contra o novo Coronvaírus.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde e com o Plano Nacional de Imunização não é recomendável que uma mesma pessoa receba doses diferentes, principalmente em espaço de tempo tão curto. O médico agora será monitorado pela Secretaria Municipal da Saúde, que precisa ter conhecimento de sintomas adversos.

Cristiani Silvério explica como isso foi possível. "As doses aplicadas são monitoradas pela plataforma VastVida do Governo do Estado e no momento da aplicação o sistema estava inoperante pelo fato de ser usado ao mesmo tempo por muitos municípios. Até a semana passada havia falhas no sistema e o nome de uma mesma pessoa poderia aparecer duas vezes, o que já foi corrigido", diz a secretária Municipal da Saúde Cristiani Silvério.

Porém, o que causa indignação aos agentes da saúde é que o caso foi praticado por um profissional da saúde médico.

"O que nos causa indignação é que não é um usuário comum e sim um profissional da saúde que tem conhecimento de todos os protocolos impostos pelo Programa Nacional de Imunização. Ele tomou duas vezes a primeira dose da vacina sabendo que lutamos para oferecer doses para a população. Com o que ele fez, temos uma dose a menos para imunizar uma pessoa", considera Cristiani.

O caso já foi notificado para o Grupo de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo e ao Departamento Jurídico da Prefeitura Municipal de Assis para que o médico responda juridicamente pelo ato praticado.

"Realmente, um médico burlar e aproveitar de uma lacuna e se imunizar duas vezes é inaceitável, afinal ele tem responsabilidades sanitárias e o Jurídico da Prefeitura vai acioná-lo juridicamente pelo ato praticado", informa a secretária.

O presidente da Cooperativa Unimed de Assis Elyseu Boutros informou que acionou a Prefeitura de Assis para colaborar no processo de imunização de profissionais da saúde da linha de frente contra o novo Coronavírus, incluindo médicos, que foram consultados sobre o interesse em se vacinarem e o médico Oliveira Pereira manifestou interesse. A lista com os nomes dos que desejavam se vacinar foi encaminhada à Secretaria Municipal da Saúde e as doses foram enviadas nominalmente para a equipe da Unimed fazer a aplicação.

"Eu não tinha como saber se o Dr. Oliveira havia sido vacinado, porque o nome dele estava na lista por ter manifestado o interesse em se vacinar, o que foi feito. O que estranhou muito foi ser uma pessoa extremamente esclarecida, e no próprio vídeo ele fala que isso não é correto, ou seja, não foi uma pessoa que fez sem saber, sabia o que estava fazendo, sabia que estava errado, tirou a vacina que poderia ter sido disponibilizada para outra pessoa", lamenta o presidente da Cooperativa Unimed Assis.

A diretoria da Cooperativa já acionou seu Departamento Jurídico e está fazendo uma revisão do quadro estatutário para tomar as providências adequados em relação a esse caso.

"Eu e a classe médica estamos inconformados com a atitude desse colega, que nos deixou profundamente constrangidos e desconfortáveis, em um momento tão delicado como esse de pandemia que estamos passando", finaliza Dr. Elyseu.

O médico Oliveira Pereira recebeu a primeira dose da CoronaVac no Hospital Regional de Assis no dia 26 de janeiro e a primeira dose da Astrazeneca no dia 2 de fevereiro.