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"Só acompanhantes tem direito de intervir em casos de violência obstétrica", explica doula e psicóloga de Assis

Psicóloga e doula explica o que é violência obstétrica e como agir caso seja vítima

Redação AssisCity

  • 16/04/21
  • 14:00
  • Atualizado há 158 semanas

Muitas mulheres acreditam que o parto normal é perigoso. Um dos principais motivos desse pensamento, são abusos que gestantes sofrem em hospitais, no pré-parto ou durante ele. Mas não é apenas em parto normal que existe violência obstétrica, mulheres que passam por cesarianas também podem sofrer o problema. Em alguns casos, a própria indicação de cesariana desnecessária é a própria violência.

A psicóloga e doula Maíra Boutros Ladeia Zanoti, conversou com o AssisCity e explica tudo que pode fazer a mulher se sentir desrespeitada pela assistência durante a gestação, parto e pós- parto e pode ser considerado violência obstétrica.

"A violência pode ser por negligência, se negarem a prestar atendimento, desconsiderarem preocupações que a mãe tenha, recusa de acompanhante ou qualquer outro direito dessa mulher, por exemplo; pode ser física, na forma de examinar, de tocar, na falta de consentimento por parte da mulher, privação de alimentação, de movimentos e intervenções desnecessárias; verbal, comentários desnecessários, constrangedores e ofensivos, agressões, falas ameaçadoras, rispidez no tom de voz; ou psicológica, quando a mulher é coagida a tomar decisões por se sentir ameaçada, ou quando há ações que façam com que a mulher se sinta inferior, vulnerável, instável, insegura, por exemplo. Desrespeito ao plano de parto da mulher também pode ser considerado um tipo de violência", explica.

divulgação - Psicóloga e doula Maíra Boutros Ladeia Zanoti
Psicóloga e doula Maíra Boutros Ladeia Zanoti

Maíra conta que já presenciou muitos casos de violência obstétrica, de diversos tipos.

"Já presenciei manobra de Kristeller, onde a barriga da mulher é empurrada pra acelerar o parto; episiotomia, violência verbal, psicológica, intervenções desnecessárias, desrespeito a plano de parto, entre muitas outras coisas. Inclusive, alguns profissionais que a praticaram, se diziam "humanizados". Porém, como doula eu não posso intervir. Só quem pode, e deve, intervir nestes casos, é o acompanhante escolhido pela mulher", destaca.

"É muito importante que essa mulher seja apoiada e respeitada. Os familiares devem respeitar as vontades da mulher de falar ou não sobre o que aconteceu, e nunca suas dores devem ser questionadas. Só quem viveu a situação é que pode dizer se sentiu ou não a violência. Fiquem atentos a sinais de que ela possa não estar bem e procurem ajuda profissional de uma psicóloga, caso necessário. Nós estamos preparadas para o atendimento a este tipo de demanda. Não a desmotivem também se ela quiser fazer a denúncia, falar do assunto ou chorar", considera.

Maíra ressalta que se uma mulher foi vítima de violência obstétrica ela deve fazer uma denúncia pelo telefone 180 e seguir as instruções para que o caso seja apurado.

"Se ficar provado que ocorreu a violência, as pessoas e/ou instituição poderão responder judicialmente por isso. Mas é importante também que esta mulher procure ajuda psicológica para lidar com as conseqüências deste acontecimento em sua vida e saúde mental", lembra.

divulgação - Em Assis, lei municipal permite que parturiente tenha dinheiro a um acompanhante além da doula
Em Assis, lei municipal permite que parturiente tenha dinheiro a um acompanhante além da doula

Lei

Maíra conta que infelizmente ainda não há no Brasil uma Lei Federal específica para violência obstétrica. Mas o tema encontra amparo em outras leis federais, como a lei do acompanhante e a lei do plano de parto, e a lei estadual 15.759/2015 do deputado Carlos Bezerra Júnior, que trata sobre parto humanizado, no entanto a lei não aborda a violência obstétrica.

Alguns estados e municípios como é o caso de Assis, há também legislações específicas, como a lei das doulas, que permite a presença de uma doula para a parturiente, além do seu acompanhante. Há também orientações e diretrizes nacionais e internacionais que deixam claro o que é a violência obstétrica. A OMS a considera uma violação dos direitos humanos.

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