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Nascido em Cândido Mota, rapaz é resgatado no Alasca depois de viagem inspirada em história famosa

Gabriel Dias da Silva viveu dias semelhantes ao californiano Christopher McCandless, de "Na Natureza Selvagem"

Redação AssisCity/ Fotos: Divulgação

  • 03/05/20
  • 15:00
  • Atualizado há 208 semanas

Nascido em Cândido Mota, o jovem Gabriel Dias da Silva foi destaque em diversos jornais ao redor do Brasil e do mundo, inclusive do New York Times, após se viver uma aventura digna de filme. Ele saiu de carona de Cuiabá, capital do Mato Grosso, com destino ao Alasca, o que já seria uma grande jornada.

Após percorrer 22 países, Gabriel ganhou a mídia depois de precisar ser resgatado no dia 14 de abril de um acampamento selvagem nas proximidades do Parque Nacional Denali, onde fica também o famoso ônibus presente em uma das histórias mais famosas do cinema e da literatura.

Para quem não conhece, o protagonista da versão origianl é o californiano Christopher McCandless, que ficou mundialmente conhecido como Alexander Supertramp. Sua vida é retratada no livro "Na Natureza Selvagem", que também ganhou uma obra cinematográfica que leva o mesmo nome.

Divulgação - Gabriel no famoso Magic Bus, no Alasca
Gabriel no famoso Magic Bus, no Alasca

Christopher morreu de inanição em 1992, em um ônibus conhecido como Magic Bus, e onde Gabriel acredita ter ficado cerca de duas semanas até o resgate.

A reportagem do AssisCity está tentando contato com Gabriel e também seus familiares, para saber um pouco mais da história da família e desse aventureiro. Enquanto isso, confira abaixo o relato da experiência vivida pelo candidomotense.

Relato

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Gabriel relatou como foi a sua viagem, o que houve para que ele precisasse pedir resgate, o momento em que sentiu medo e pediu desculpas diante da repercussão que o caso tomou em todo o mundo.

"Já saí em muitos jornais, sempre achei legal, mas dessa vez eu estou com muita vergonha. Para quem gosta de aventura e da vida ao ar livre, você ter um fracasso divulgado em mídia mundial é uma vergonha", afirmou.

"Estou no Alasca desde o dia 8 de fevereiro. Depois que começou o coronavírus, eu tive a ideia de caminhar nas montanhas. Já que a regra é o isolamento social, eu pensei em acampar na beira de um rio ou de uma montanha. Comprei comida, enchi minha mochila de coisas, equipamentos de comunicação via satélite e comecei a caminhar pelo meio do nada, na neve do Alasca. Depois de uns 7 dias, eu lembrei que estava perto do ônibus do filme do cara que tem uma história um pouco parecida com a minha. Pensei 'porque eu não vou passar a quarentena lá?', e fui", conta.

Ao longo do trajeto, Gabriel caminhou por cerca de 40 quilômetros até chegar no local.

"É bem difícil chegar lá, são mais ou menos 40 quilômetros de caminhada e tem que cruzar vários rios. No meu entendimento, eu comprei bastante comida e achei que dava para três meses, quando o coronavírus tiver acabado e eu volto.

Passou uma semana mais ou menos, ou duas, eu percebi que minha comida não ia durar como eu tinha imagino. Nesse entretempo, comecei a ler o livro dele lá no ônibus. Eu estava dormindo no Magic Bus e chegou uma parte que o Christopher fez a tentativa de voltar para a sociedade, e se deparou com o rio derretido, cheio de água.

Também li relatos de várias pessoas que morreram e pensei que era melhor voltar logo, porque se o rio derrete, eu fico preso aqui igual a ele, sem comida. E ai comecei a caminhar uns 25 quilômetros de volta, e quando cheguei no primeiro rio grande, que desastre".

Divulgação - Candidomotense Gabriel Dias da Silva
Candidomotense Gabriel Dias da Silva

O que Gabriel não contava é que, com o final do inverno no hemisfério norte, as condições climáticas e da paisagem também mudariam.

"O rio tinha derretido e, quando passei na ida, tinha uma ponte de gelo. Na volta, o volume de água não estava tão forte, mas o problema era que do outro lado tinha cerca de 1,5 metros de gelo que eu teria que escalar. Estava com um trenó cheio de coisas, uma mochila grande, mas o problema nem era esse. Pensei que possivelmente, quando eu fosse tentar escalar, o gelo poderia despencar e eu ia cair na água, bater a cabeça, sofrer algum acidente.

Analisei tudo aquilo e pensei que era melhor apertar o SOS do meu dispositivo de comunicação via satélite. Quando solicitei, informei por mensagem falando que estava bem, com comida suficiente para esperar se fosse preciso, mas que não conseguiria atravessar o rio".

Gabriel disse também que sua intenção era ficar mais tempo no local, mas o perigo dos ursos também o assustou.

"A minha intenção não era voltar nesse momento, só daqui uns 3 meses. Mas além da minha comida não durar tanto tempo, comecei a ver muita pegada de urso perto do ônibus, eu estava desarmado, os animais acordando da hibernação e comecei a ficar com medo. Foi por isso que decidi voltar.

Eu fiquei muito envergonhado mesmo de ter solicitado esse resgate, e sinto muito pelo transtorno que causei para todo mundo. Eu estou viajando já há 2 anos, passei por 22 países, tudo na aventura e nunca pedi um resgate antes. Só solicitei porque foi realmente necessário".

O jovem também disse ter sofrido muitas críticas diante da repercussão do caso, mas pediu desculpas a todos pelo que ocorreu.

"Muita gente está mandando mensagem falando que eu não fui sensato, estava despreparado, e estou aqui para dizer que sinto muito. Talvez você não conheça minha história, não saiba quem eu sou, então por favor não me deixe mais mal do que já estou. Provavelmente nos próximos dias eu vou para a casa de um amigo que mora em uma montanha no Alasca.

Posso ficar até agosto, porque meu visto é de seis meses, e depois daqui eu não sei. Depois desse episódio, estou começando a colocar a cabeça no lugar. Eu queria caminhar até o Polo Norte, mas percebi que preciso estar muito mais preparado fisicamente e, apesar de não ter desistido dessa ideia, ela não vai acontecer no próximo inverno.

Divulgação - Cena do filme Na Natureza Selvagem, que conta a história de Christopher McCandless
Cena do filme Na Natureza Selvagem, que conta a história de Christopher McCandless

Depois daqui, provavelmente vou seguir para a China, Europa, África, depois voltar para o Canadá, Alasca ou para o Brasil, e só Deus sabe. Espero que todos fiquem, se cuidem nesses momentos difíceis de coronavírus e é isso, sinto muito de verdade.

Eu estava tranquilo em relação a isso, mas deu uma repercussão muito grande, jornais do mundo inteiro escreveram sobre esse resgate e é muito ruim. Sinto muito de verdade", finaliza.

Assista ao relato completo de Gabriel:

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